sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Após mapa do chifre, sinceridade é palavra de ordem, da Boca do Rio ao Rio Vermelho


A pergunta não dá margem a respostas imprecisas: “Você já traiu?”. Monique Coelho, 25 anos, aperta a mão do marido, faz que vai gaguejar, joga a franja pra trás, prende o riso e se apoia na sinceridade: “Já! Já traí e já fui traída. Mas antes de conhecer ele”.

“Ele” é Diogo dos Santos, 20 anos, que divide um suco com a esposa na porta de uma lanchonete. Diante do mesmo questionamento, Diogo vacila mais. Alcança os óculos escuros na mesa e começa a encobrir os olhos lentamente. Antes de esconder o olhar por completo, deixa escapar um quase imperceptível “eu mesmo não!”.

Casados há um ano, Monique e Diogo moram na Boca do Rio, bairro onde a pesquisa Futura-CORREIO sobre Traição e Homofobia, publicada na edição de ontem, detectou o maior índice de pessoas que afirmam jamais ter traído (68%).

Quando Monique começa a dizer que a estatística pode refletir a realidade, o marido do “eu não” logo retoma a palavra. “Oooxe, que nada! Quem é que nunca traiu, rapaz? O pessoal deixou foi as coisas debaixo dos panos nessas respostas aí”, avaliou Diogo.

Em que pese o esforço da reportagem, foi mesmo difícil encontrar na Boca do Rio muitas pessoas que nunca tivessem pulado a cerca. “Logo aqui esse santos todos?”, duvidou o comerciário Emanoel Almeida, 48 anos, que já jogou nos dois times: dos chifrados e dos chifrantes.

“Aqui a gente vê é o povo aprontando na rua”, completou a caixa Cleonildes de Jesus, 26 anos, traída “diversas vezes”, mas sempre andando na linha, de acordo com o próprio relato.

Sinceridade
Pouca gente, porém, aplica um virote com tanta convicção quanto Valdinéia Monteiro, corretora de imóveis de 32 anos. “Já traí muitas vezes e vou trair quantas me der vontade”, afirmou sem pensar meia vez.

Em seguida, listou rapidamente fatores que podem levar a um zig: relação fria e busca por alguém com melhor perspectiva de futuro foram os aspectos mais racionais.

Daí, Valdinéia penetrou no mundo das coisas palpáveis. “É sempre bom experimentar novidades. Às vezes a gente prova algo na rua e percebe que o que temos em casa é bom. Volta com mais fogo. E às vezes a gente encontra alguém que pega com mais vontade mesmo”, resumiu.

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