segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Caminhoneiros protestam em 8 Estados e bloqueiam rodovias

Em protesto contra aumentos nos valores do diesel, do pedágio e dos impostos, caminhoneiros bloquearam rodovias em pelo menos oito Estados nesta segunda-feira, 23. As manifestações, realizadas por iniciativa dos próprios transportadores autônomos e lideradas por sindicatos, cobravam reajuste nos fretes e melhoria nas estradas. Em várias partes do País, o movimento já prejudica o abastecimento.

A Rodovia Fernão Dias, principal ligação entre São Paulo e Belo Horizonte, tinha 36 quilômetros de congestionamento ontem à tarde na região de Perdões causado por dois bloqueios na pista sentido São Paulo e quatro na pista sentido Belo Horizonte. No Paraná, 20 trechos rodoviários foram interditados. Por causa dos bloqueios, postos das regiões de Cascavel e Guarapuava estavam sem combustível. Em São João, produtores estavam sem óleo diesel para seguir com a colheita, segundo o Sindicato Rural. Os protestos ocorrem no Estado desde o dia 13. A paralisação atingiu o Rio Grande do Sul ontem.

Os caminhoneiros chegaram a atear fogo em pneus no acostamento da estrada de acesso a Ijuí. No início da tarde, seis bloqueios deixavam o trânsito lento em rodovias federais. Em Mato Grosso, caminhoneiros trancaram a BR-163, principal via de escoamento da produção agrícola no Estado, que está em plena colheita da soja. De acordo com o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) para a Região Norte, Silvésio de Oliveira, já há relatos de falta de combustível em municípios pequenos.

“Se a situação se prolongar, vamos ter graves problemas, pois muitos produtores não têm onde estocar a soja”, afirmou. Os bloqueios afetam, além de acessos a Cuiabá, vias de ligação entre Sinop, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Adamantina, municípios dedicados à produção agrícola. O caminhoneiro autônomo Renato Prates de Luca, que atende grupos agrícolas de Rondonópolis, reclama do frete baixo. “Pagam R$ 3,80 o quilômetro rodado, quando deveria ser no mínimo R$ 4,60. Quando caímos em estradas de São Paulo e do Paraná, o custo fica insuportável com os pedágios.” Ele conta que faz rotas alternativas, que aumentam o risco e elevam o gasto com diesel.

Carne e leite
A mobilização afeta as indústrias de leite, carne e grãos do oeste catarinense, segundo o diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina, Ricardo de Gouvêa. Embora os bloqueios permitam a passagem de cargas perecíveis, como carne, leite e frangos vivos, no retorno os veículos são barrados e não podem recarregar. Gouvêa, que é dirigente também da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), disse que a situação é caótica e pode haver demissões.

“A economia da região está sendo estrangulada. Em muitos municípios, a coleta de leite foi suspensa. Animais podem perecer por falta de alimentação.” Houve bloqueios também em Goiás, Rondônia e Mato Grosso do Sul. De acordo com o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, a mobilização mostra que os autônomos estão “em situação de desespero”, pois os custos subiram e o frete não remunera o trabalho. “O frete está como a água do Cantareira, não existe: se não houver um reajuste, a maioria dos caminhoneiros não chega até o fim do ano.”

Segundo Silva, para evitar “o caos”, as partes envolvidas - autônomos, empresários e governo - devem dialogar. Citado como organizador da mobilização, o Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) informou que apenas apoia, mas não participou de nenhuma ação. Em nota em seu site, a Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam) também negou participação nos bloqueios.

O Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Minas Gerais (Sindimac-MG) disse que não aderiu. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte e Transportadoras do Oeste Catarinense (Setcom), Paulo Sermione, declarou que o movimento é independente e liderado por caminhoneiros autônomos, mas considera a causa “ justa” e a apoia.

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