domingo, 26 de março de 2017

Brasileiros saem às ruas para exigir investigações a fundo contra políticos

Milhares de brasileiros voltaram às ruas neste domingo para expressar seu cansaço com a corrupção e denunciar as manobras que procuram colocar centenas de políticos corruptos à salvo da justiça.

Os protestos começaram pela manhã em Brasília e no Rio de Janeiro, e prosseguirão à tarde em São Paulo.

Com as palavras de ordem “Fim da impunidade” e “Renovação política”, os participantes reclamam o fim do foro privilegiado para ministros e congressistas e criticam as tentativas de anistiar as doações não declaradas a campanhas eleitorais, conhecidas como Caixa 2, que canalizaram milionários desvios de dinheiro público.

Os grupos que convocaram os atos tiveram papel determinante no impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, mas sua campanha de moralização da vida pública se choca com o governo do presidente sucessor, Michel Temer.

Calcula-se que centenas de políticos – e muitos ministros – figuram nos pedidos de denúncia enviados este mês ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas delações premiadas de 77 executivos da construtora Odebrecht.

Os manifestantes possuem divisões entre si, mas parecem afinados na defesa da Operação Lava Jato e de seu promotor, o juiz Sérgio Moro, que há três anos revelou um complexo esquema de corrupção envolvendo a Petrobras.

“A Lava Jato é um patrimônio nosso”, afirmou uma das pessoas que discursou em um carro de som da organização Vem Pra Rua (VPR) na praia de Copacabana. “Os políticos estão apavorados”, acrescenta.

“Estamos aqui para manter a indignação viva”, declarou à AFP Adriana Balthazar, designer de moda e coordenadora do VPR no Rio.

Em outras ocasiões, a pressão das ruas ou nas redes sociais obrigaram Temer a frear projetos de anistia de financiamentos ilegais de campanhas eleitorais.

Agora os manifestantes esperam que aconteça o mesmo com projetos como o de organizar as eleições de 2018 com um sistema de listas fechadas, que permitiria aos políticos denunciados serem reeleitos sem fazer campanha em nome próprio, ganhando assim um novo mandato de imunidade parlamentar.

A mobilização, no entanto, não alcançou o mesmo volume que o de 2015-2016 para pedir a saída de Dilma e seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva.

Alguns analistas afirmam que os brasileiros, atingidos por mais de dois anos de recessão econômica, começam a dar sinais de cansaço ante a interminável repetição de escândalos.

O mais recente foi o da rede de propinas pagas pelos principais frigoríficos do país a inspetores sanitários para vender carne com data vencida, afetando as exportações do país que é uma potência agropecuária.

– Empresários aborrecidos –

O Vem Pra Rua, o Movimento Brasil Livre (MBL) e outros grupos que participam nos protestos acompanham suas denúncias contra a corrupção com uma agenda econômica liberal.

Isso faz com que não tenham o apoio de grupos de esquerda, embora muitos deles – começando pelo PT de Lula – vejam a Lava Jato como uma manobra para impedir o ex-presidente (réu em cinco denúncias) de disputar as próximas eleições.

Temer poderia por isso contar com certa tolerância por parte dos manifestantes que em 2015 exigiram a saída de Dilma, satisfeitos com a tentativa de sanear as contas públicas com medidas de austeridade.

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