domingo, 18 de junho de 2017

Haylton Escafura quis retomar pontos do jogo do bicho de comparsas um mês antes de ser executado

Dia 29 de abril, Motel Mirante, Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Num dos quartos, Haylton Escafura, fora da cadeia desde janeiro, deu o ultimato aos membros da quadrilha que, há mais de cinco anos, arrendaram regiões da Zona Norte — que englobam os bairros de Madureira, Cascadura e Pilares — para exploração do jogo do bicho e máquinas caça-níquel: o herdeiro de José Caruzzo Escafura, o Piruinha, queria seus pontos de volta. No encontro, o contraventor concordou em pagar R$ 3 milhões para retomar o controle da região. Os arrendatários não queriam ceder e houve discussão. Ao final, o valor foi pago. Após a reunião, Haylton reforçou a blindagem de seu carro.

Na madrugada da última quarta-feira, o contraventor foi executado com mais de 20 tiros de armas de três calibres diferentes num quarto de outro hotel, a 20 quilômetros de distância, o Transamérica, no Recreio, onde passou a viver nos últimos meses. Para agentes da Divisão de Homicídios (DH), a reunião selou o destino de Haylton. Após o encontro, ficou acordado que, em cinco dias, os arrendatários deixariam os pontos. No período, outros valores foram exigidos pelos ex-comparsas para a liberação dos locais, como a quantia de quase R$ 200 mil por bar na região. Haylton não concordou e parou de negociar.
A ruptura na quadrilha, entretanto, aconteceu durante o período de cinco anos em que Haylton esteve preso e foi revelada à Polícia Civil há mais de dois anos. Em novembro de 2014, um parente do contraventor foi à DH e contou que o processo de afastamento entre Escafura e seus arrendatários começou em 2012, quando ele e seus comparsas mais próximos foram presos na operação Black Ops, da Polícia Federal. O depoimento, que só agora vem à tona, faz parte do inquérito que investiga a morte de um dos homens de confiança de Haylton, Michel Vasconcelos Fernandes, também executado a tiros numa loja de autopeças em Honório Gurgel, em outubro de 2014.

A testemunha deu nomes e entregou fotos. De acordo com o depoimento, obtido pelo EXTRA, a região controlada por Piruinha e Haylton foi arrendada a Marcelo Simões Mesqueu, o Marcelo Cupim, e seu braço direito, o PM inativo Adriano Maciel de Souza, o Chuca, e permaneceu com a dupla no período em que o contraventor ficou preso. O relato revela que a morte de Michel sacramentou a ruptura: o homem de confiança de Haylton teria sido morto após cortar relações com os arrendatários.

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