Dia 29 de abril, Motel Mirante, Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Num dos quartos, Haylton Escafura, fora da cadeia desde janeiro, deu o ultimato aos membros da quadrilha que, há mais de cinco anos, arrendaram regiões da Zona Norte — que englobam os bairros de Madureira, Cascadura e Pilares — para exploração do jogo do bicho e máquinas caça-níquel: o herdeiro de José Caruzzo Escafura, o Piruinha, queria seus pontos de volta. No encontro, o contraventor concordou em pagar R$ 3 milhões para retomar o controle da região. Os arrendatários não queriam ceder e houve discussão. Ao final, o valor foi pago. Após a reunião, Haylton reforçou a blindagem de seu carro.
Na madrugada da última quarta-feira, o contraventor foi executado com mais de 20 tiros de armas de três calibres diferentes num quarto de outro hotel, a 20 quilômetros de distância, o Transamérica, no Recreio, onde passou a viver nos últimos meses. Para agentes da Divisão de Homicídios (DH), a reunião selou o destino de Haylton. Após o encontro, ficou acordado que, em cinco dias, os arrendatários deixariam os pontos. No período, outros valores foram exigidos pelos ex-comparsas para a liberação dos locais, como a quantia de quase R$ 200 mil por bar na região. Haylton não concordou e parou de negociar.
A ruptura na quadrilha, entretanto, aconteceu durante o período de cinco anos em que Haylton esteve preso e foi revelada à Polícia Civil há mais de dois anos. Em novembro de 2014, um parente do contraventor foi à DH e contou que o processo de afastamento entre Escafura e seus arrendatários começou em 2012, quando ele e seus comparsas mais próximos foram presos na operação Black Ops, da Polícia Federal. O depoimento, que só agora vem à tona, faz parte do inquérito que investiga a morte de um dos homens de confiança de Haylton, Michel Vasconcelos Fernandes, também executado a tiros numa loja de autopeças em Honório Gurgel, em outubro de 2014.
A testemunha deu nomes e entregou fotos. De acordo com o depoimento, obtido pelo EXTRA, a região controlada por Piruinha e Haylton foi arrendada a Marcelo Simões Mesqueu, o Marcelo Cupim, e seu braço direito, o PM inativo Adriano Maciel de Souza, o Chuca, e permaneceu com a dupla no período em que o contraventor ficou preso. O relato revela que a morte de Michel sacramentou a ruptura: o homem de confiança de Haylton teria sido morto após cortar relações com os arrendatários.
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