terça-feira, 1 de agosto de 2017

Charlinho do Lixão vai ser indiciado pela morte do menino Arthur baleado no ventre da mãe

Charles Jackson Neres Batista, o Charlinho do Lixão, de 23 anos, vai ser indiciado pela morte do menino Arthur Cosme de Melo, atingido por uma bala perdida quando ainda estava no ventre da mãe, segundo o delegado adjunto da 59ª DP (Duque de Caxias), Aroldo Luiz de Carvalho. Ele diz não haver dúvidas de que, como chefe do tráfico de drogas da Favela do Lixão, Charlinho “ordenou, estava presente ou teve responsabilidade e conhecimento dos disparos”, até porque o alvo eram os policiais que participaram de uma operação na favela comandada por ele. Mas, segundo o delegado, a polícia trabalha também para identificar os autores dos disparos, inclusive o que atingiu a mãe.

— Sua culpabilidade (do Charlinho) é alta porque ele é o chefe da quadrilha e nada é feito na favela sem o seu conhecimento. E não é só atrás dele que nós estamos. A polícia quer comprovar quem foi o integrante da quadrilha que fez o disparo (que atingiu Claudineia) — afirmou o delegado, para quem o indiciamento de Charlinho tem fundamento no artigo 29 da Lei 7.200, de 11/7/1984 (Código Penal) pelo qual “quem, de qualquer modo concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.”

Ainda segundo o delegado, a reconstituição do crime, provas testemunhais e periciais dão a certeza de que o tiro que atingiu a Claudineia, a mãe de Arhur, partiu da arma dos traficantes. Ele disse ainda que a polícia esteve bem perto de prender Charlinho, durante uma operação realizada no último dia 20, no Jardim América. Na ocasião, houve troca de tiros e os policiais conseguiram prender Uallace Theophilo, de 27 anos, que ficou ferido durante o tiroteio. O restantre do bando conseguiu fugir em direção à Favela do Lixão e entre eles estaria o chefe do tráfico.

De acordo com a polícia, Charlinho do Lixão ou Charlinho da Vila Ideal, comanda o tráfico na favela há pelo menos dois anos. Ele é filho do traficante Charles Silva Batista, o Charles do Lixão, que está preso há pelo menos uma década e meia, num presídio federal. A Favela do Lixão é um dos principais pontos de drogas da Baixada Fluminense.

De acordo com dados do Portal dos Procurados, contra ele há um mandado de prisão expedido pela 4ª Vara Criminal de Duque de Caxias, pelo crime de homicídio. Ainda de acordo com o portal, Charlinho chegou a ser preso em 2014, por policiais da 59ª DP, após conclusão de um inquérito que apurava três tentativas de homicídio, uma delas contra um PM, e um homicídio, ocorridos em março de 2013, no bairro Engenho do Porto, em Duque de Caxias. A recompensa por informações que levem à sua prisão está mil reais.

Visita ao túmulo

Claudineia dos Santos Melo, de 29 anos, mãe de Arthur, foi atingida ao voltar de um mercado local, após ter feito compras com o marido Clebson, no começo de julho. O tiro perfurou a região da bacia e atravessou o corpo do bebê, na altura dos pulmões. A mãe sobreviveu e Artur nasceu em uma cesariana, uma cirurgia de emergência para salvar duas vidas e morreu após 30 dias internado.

Nesta terça-feira, um dia depois do enterro do menino, a sepultura dele na quadra 10 do Cemitério Nossa Senhora das Graças, em Duque de Caxias, recebeu pelo menos uma visita. De acordo com o relato de um coveiro, no começo da manhã, uma mulher que não se identificou indagou onde o corpo estava e se dirigiu à gaveta de número 22, onde permaneceu em silêncio por alguns minutos e depois foi embora.

O coveiro Rogério de Oliveira, de 42 anos, que há seis meses trabalha no cemitério, disse que está acostumando aos sepultamentos, mas não tem como ficar indiferente a um caso como o do Arthur, morto de uma forma violenta e tão precocemente. Ele acha que ainda é muito cedo para a sepultura atrair curiosos, mas acredita que nas próximas semanas isso deve ocorrer.

— A cidade está muito violenta. As pessoas ficam tocadas — disse o morador da Taquara e pai de uma menina de 13 anos.

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