sábado, 21 de outubro de 2017

Coordenadora do colégio evitou massacre e suicídio do atirador em Goiás

A coordenadora do Colégio Goyases, onde um adolescente de 14 anos abriu fogo contra os colegas de sala de aula, evitou uma tragédia ainda maior. Com conversa, ela conseguiu dissuadir o garoto de descarregar um segundo cartucho do revólver .40, inclusive contra a própria cabeça.

Conforme os primeiros depoimentos à Polícia Civil de Goiás, o adolescente tentou efetivar um massacre, depois de ter carregado pela segunda vez a arma. O garoto fez pelo menos 11 disparos, matou dois colegas e feriu outros quatro. Voltou a carregar o revólver e mudou de ideia a partir de uma conversa com a coordenadora.

— Não faz mais isso — pediu a educadora, que tinha boa relação com o adolescente.

O que se passou depois, conforme os depoimentos, foi que o jovem ameaçou tentar se matar. Ele colocou a arma na cabeça, desistiu, deu mais um tiro no chão e pediu para chamar a Polícia Militar (PM).

— Chama a polícia, meu pai é policial — teria dito o adolescente.

A coordenadora, então, o levou até a biblioteca. Lá, esperaram a PM. O jovem, então, foi levado à delegacia que atende adolescentes infratores.

De acordo com familiares de alunos da escola, o atirador era vítima de bullying. Os sentimentos provocados pelas piadas de colegas podem ter sido a motivação do estudante.

O atirador entrou com a arma, uma pistola .40, na mochila. Segundo relatos de testemunhas, depois de um disparo dentro da própria mochila e de um tiro para o alto, o estudante mirou em um jovem sentado atrás dele, que comumente implicava com ele por causa do seu cheiro.

Adolescente disse que se inspirou em Realengo e Columbine

O atirador que matou dois alunos e feriu outros quatro dentro do Colégio Goyases, em Goiânia, nesta sexta-feira, afirmou, em depoimento, que se inspirou nos massacres de Realengo, na Zona Oeste do Rio, e em Columbine, no Colorado, nos Estados Unidos.

De acordo com o delegado Luiz Gonzaga Júnior, da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais (DEPAE), o adolescente contou que vinha sendo vítima de bullying na escola e há cerca de dois meses se interessou pelos massacres. O estudante, então, disse ter começado a pesquisar vídeos e imagens na internet sobre o assunto.

— Há dois dias ele teve um desentendimento com uma das vítimas fatais. Ele contou que estava sofrendo bullying e que sentia vontade de matar essas pessoas. "Eu sofria bullying e vou matar", foi o que ele disse — contou o delegado.

Ainda segundo o titular, o adolescente confessou não gostar de uma das vítimas fatais.

— Ele dizia que a vítima o "amolava muito" — falou o delegado.

No depoimento à polícia, o adolescente responsável pelo ataque também contou que encontrou a arma da mãe, que estava escondida no quarto dos pais, e colocado na mochila.

— O adolescente contou que sabia onde estava a arma e a pegou sem os pais saberem. Ele colocou a arma na mochila e levou para a escola. No intervalo, ele pegou a arma e atirou. Como é inexperiente, o primeiro disparo atingiu a bolsa. Em seguida, ele confessou ter mirado no principal desafeto dele. Após isso, com o desespero dos demais alunos, ele afirmou que decidiu matar todos. "Vou matar todos vocês", ele contou que falou no momento — explicou o titular da DEPAE.

Ainda de acordo com o delegado, o adolescente não demonstrou nervosismo em nenhum momento e se disse arrependido do crime.

— Ele estava abatido, mas estava tranquilo. Estava acompanhado dos pais e do advogado e disse que tinha se arrependido do que fez — contou.

O adolescente de 14 anos será encaminhado para um centro de internação.

Tragédia nas escolas

Os crimes nos quais o adolescente se inspirou também ocorreram dentro de unidades de ensino. Em 7 de abril de 2011, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, voltou à escola onde havia estudado e abriu fogo contra os alunos. Ele matou 12 crianças e depois cometeu suicídio, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do Rio. Wellington chegou ao local dizendo que faria uma palestra na escolal. Após ter a entrada autorizada, ele foi até uma das salas de aula, sacou dois revólveres e começou a disparar contra os alunos.

Nos Estados Unidos, o ataque conhecido como massacre de Columbine, em Denver, no estado americano do Colorado, aconteceu em 20 de abril de 1999 e deixou 12 alunos e um professor mortos, além de outros 25 feridos. O ataque foi orquestrado Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 15, que se mataram na biblioteca após a ação. Os adolescente teriam orquestrado o ataque como vingança pelo bullying que sofriam na escola. Foram usadas no ataque bombas caseiras, espingardas de grosso calibre, um rifle semiautomático e uma pistola. Os dois invadiram a escola e atiraram nos outros estudantes. A história inspirou o filme “Tiros em Columbine”, de Michael Moore, que ganhou o Oscar de melhor documentário em 2003.

Nenhum comentário: