segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Por questão de segurança equipe de Bolsonaro limita trabalho da imprensa na posse

Os preparativos para a posse e as regras para a cobertura do evento estabelecidas pela equipe de Jair Bolsonaro já demonstram que o presidente eleito não está disposto a melhorar sua já complicada relação com a imprensa.

Ao contrário das posses anteriores, os jornalistas terão, nesta terça-feira (1º), seu trabalho dificultado por limitações à circulação impostas pela organização do evento.

O credenciamento para trabalhar na posse foi feito por setores, só que, neste ano, o profissional só poderá ter acesso a um único local. Por exemplo, o repórter que estiver no Congresso Nacional não poderá entrar no Palácio do Planalto, mesmo se possuir credencial para ambos. Nas posses anteriores, a circulação era livre.

Além disso, os repórteres só conseguirão chegar aos locais de cobertura por meio de transporte oferecido pela equipe de transição - o problema, no entanto, é que o deslocamento será feito até 8 horas e meia antes do início das cerimônias.

Apesar de a programação das solenidades começar às 14h45, os jornalistas terão que chegar ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), sede do governo de transição, às 7h da manhã, de acordo com orientações enviadas na última sexta-feira (28). O local fica a cerca de 6 quilômetros do Palácio do Planalto.

Já a recepção oferecida pelo presidente e pela primeira-dama Michelle Bolsonaro no Palácio Itamaraty, está prevista para começar às 19h, mas os jornalistas que trabalharão no local sairão do CCBB às 10h30. O jantar deve se encerrar às 21h.

No documento com orientações à imprensa, também foi informado que os profissionais terão de retornar ao CCBB em ônibus específicos, mas os horários só serão divulgados no dia.

Até a última sexta-feira, também havia o entendimento de que jornalistas deveriam se submeter às mesmas normas de segurança de pessoas que irão assistir à posse. Com isso, não poderiam levar mochila ou bolsa. A restrição iria inviabilizar carregar câmeras, lentes, tripés, notebooks e blocos de anotações, por exemplo.

De acordo com Secretaria de Comunicação da Presidência da República, os locais de venda de alimentos estarão fechados durante todo o dia e só será permitido à imprensa levar comida em sacos plásticos transparentes. Garrafas foram proibidas. O comunicado, no entanto, afirma que haverá água potável disponível nas áreas de imprensa.

Nota do sindicato
Diante das dificuldades impostas ao trabalho da imprensa no dia da posse, o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal (SJPDF) divulgou uma nota em que pede bom senso para equipe do presidente Jair Bolsonaro. A nota também defende o uso de máscaras para gás, capacete e coletes à prova de balas.

O sindicato lembra que, desde 2014, o Ministério Público do Trabalho recomenda o uso do equipamento por jornalistas, para evitar acidentes como o que vitimou o repórter cinematográfico Santiago Andrade. "É preocupante que um evento que espera receber meio milhão de pessoas insista em descumprir uma recomendação do Ministério Público e expor profissionais a riscos desnecessários", diz o texto.

Santiago morreu em 2014 após ser atingido por um rojão disparado por um manifestante durante um protesto contra a alta da tarifa de ônibus no Rio de Janeiro.

Além das restrições de acesso, alimentação e segurança, diversos profissionais não receberam credenciamento dos locais solicitados. Jornalistas que solicitaram a autorização para trabalhar em áreas internas do Palácio do Planalto, por exemplo, foram designados para a parte externa, sem que se apresentasse qualquer justificativa.

A equipe da Presidência não explicou o motivo das restrições. Sobre a circulação, a assessoria de imprensa do governo de transição disse a jornalistas que "antigamente era antigamente", ao ser questionada sobre a mudança de postura em relação aos anos anteriores.

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