Márcia Imperator é talvez a atriz de Santa
Catarina que mais emplacou no cinema nacional. Com uma filmografia vasta
para quem tem apenas 38 anos – 14 produções oficiais, a maioria sucesso
mundo afora –, ela ultimamente tem levado uma vida tranquila em sua
casa no Rio Vermelho, em Florianópolis, onde cuida das três filhas e do
lar. Atriz pornô internacionalmente reconhecida, ela está
momentaneamente afastada das câmeras e dos sets de filmagem, e hoje
viaja fazendo shows de striptease.
Dona de um corpo cheio de curvas bem definidas, tipo corpão violão,
ela tem um rosto expressivo, quadrado, forte. Não tem pudores ou papas
na língua ao contar detalhes da carreira, mas conta tudo com doçura. “Eu
dei a cara para bater. Muitas mulheres se fazem de santa e estão
traindo seus maridos.”
Literalmente deu a cara à tapa. Ela conta que em suas primeiras
experiências como atriz pornô procurou levar para o set aquilo que como
telespectadora gostaria de ver. “Pensei: eu não vou fazer o que já
fazem. E eu adoro me masturbar”, conta. Assim, suas cenas mostram a
verdade com que encara o trabalho e, portanto, gravar nunca foi nada
como sexo em tom de martírio, muito pelo contrário. “Estava ali, com um
gostosão, ganhando uma grana, por que não aproveitar?”, diz.
Márcia já contracenou com ícones da cinematografia pornô, como
Alexandre Frota, Rita Cadillac e até Kid Bengala, famoso ator pornô
brasileiro, conhecido por fazer jus ao apelido. Com ele, aliás, ela
garantiu não ter tido nenhuma dificuldade. “Foi normal.”
Embora assista a filmes pornográficos, ela diz que prefere não
assistir aos seus. E emenda histórias de bastidores das filmagens do
gênero. “Os homens aplicam uma injeção próximo ao pênis para prolongar a
ereção por até cinco horas.” Ela conta que durante as gravações de
“Sexo na Fazenda” (2007), dirigido por J. Gaspar – diretor de filmes
pornô premiado –, um dos atores precisou empurrar um carro da produção
que atolou depois que caiu uma tempestade enquanto gravavam perto de uma
árvore. “O cara teve que empurrar sem roupa mesmo e com o pênis ereto.”
Ela explica como durante as gravações é
tudo muito profissional. “Chegamos ao local, cada um vai para o seu
quarto, fica limpinho e cheiroso para a cena. A gente só se vê e se fala
mesmo na hora.”
História de vida de cinema
Atuar como atriz pornô talvez tenha sido a profissão mais animada e
financeiramente viável de Márcia Imperator. Sua história de vida remete a
de uma Cinderela moderna e sem pudor. Ela já trabalhou na roça, como
garçonete de bingo, foi babá, empregada doméstica, ajudante de cozinha,
faxineira.
Ela nasceu na cidade paranaense de Boa Vista da Aparecida. Passou a
primeira infância no interior de São Paulo e ainda antes de completar
dez anos partiu com a família num fusca para o interior do Rio Grande do
Sul. “Lá trabalhamos na roça.” De novo a família se mudou, dessa vez
para Chapecó, Oeste catarinense. “A gente trabalhava plantando melancia,
milho.”
“Então fugi de casa”, conta. Ela tinha 13 para 14 anos, e
literalmente pulou a janela porque achava que apanhava muito da mãe. Mas
no final das contas, segundo ela mesma, foi pior. Casou como
alternativa à casa dos pais e quando tinha 15 anos nasceu a primeira das
três filhas. Aos 21 veio para Florianópolis, onde trabalhou de tudo. Na
época, para libertar-se de um namoro sufocante, viu como única
alternativa mudar de cidade. Em São Paulo sua vida aconteceu.
Na Ilha já tinha alguma experiência com televisão, como participante
de programas de auditório. Na capital paulista uma amiga a chamou para
trabalhar com Sérgio Malandro. Depois de participar de inúmeros outros
quadros na TV e figurante em programas humorísticos, finalmente a
chamaram para fazer o “Teste de Fidelidade”, quadro num programa de João
Kléber que se propunha a testar a fidelidade das pessoas. Ficou famosa.
“Me disseram que tinha que ficar de calcinha e sutiã e beijar na boca.
Eu disse que não tinha problemas. Não tinha namorado mesmo.”
Quando saiu da TV, passou a fazer shows de striptease, seu trabalho
até hoje. Foi nessa época que seu empresário sugeriu o cinema. “Em 40
minutos eu ganharia uma grana preta”, comenta. Ligou então para os pais,
consultou as filhas. “Meu pai disse: ‘dar você vai dar mesmo. Pior é
dar de graça e ainda passar fome.’”. Ela não revela o quanto chegou a
faturar, mas diz que conseguiu criar as filhas, comprar casa, carro.
Ela parou de fazer filmes porque a produtora faliu. “Outras me
procuraram, mas ofereceram cachê inferior.” Namorando há três meses, o
saxofonista de Florianópolis Jeovanny de Luch, 43, respeita o trabalho
dela. “Não julgo”, diz ele. E Márcia diz que se surgir nova oportunidade
para atuar, e se o cachê valer a pena, não pensa em negar. “Quem me
critica é porque queria estar no meu lugar e não tem coragem”, dispara.