O
futebol de base brasileiro definitivamente vive outros tempos no que diz
respeito a seu mercado. Em um raro momento em que a CBF cumpriu seu
papel de entidade que deve gerir o esporte de verdade, o acordo contra
“roubos de atletas”, firmado no fim de abril, surtiu efeito quase
imediato e certeiro. A ponto até de afastar agentes importantes do
processo.
Sem a possibilidade de intermediar
negociações entre equipes brasileiras, os fundos de investimento
colocaram o pé no freio e tiraram seu foco desse mercado. Em especial, a
DIS e a Traffic, que rivalizavam no ramo e hoje já têm outros
objetivos. “Basta haver qualquer indício de roubo de atletas que os
próprios coordenadores de base comunicam por e-mail. Imediatamente, a
mensagem chega para todos os representantes de clubes”, diz ao Terra um dos cerca de 40 dirigentes que formam essa lista.
A Traffic, que gere o Desportivo Brasil,
por exemplo, já havia reduzido seu investimento de modo geral, algo que
naturalmente incidiu sobre seu clube. Nesse momento, a prioridade é
negociar seus jogadores com equipes maiores em busca de um lucro em nova
transferência, a longo prazo, para o exterior. São Paulo, Fluminense,
Palmeiras e Internacional, por exemplo, já realizaram parcerias com a
Traffic.
Já a DIS (braço esportivo do Grupo
Sonda) concluiu, ainda no fim do ano passado, que deveria mudar seus
planos. Atrás de lucros mais rápidos, ainda que eventualmente menores,
deslocou sua observação para atletas já profissionais de divisões
inferiores, em especial a Série B do Campeonato Brasileiro.
O acordo firmado na CBF também impactou
dentro dos grandes clubes brasileiros, que em alguns casos passaram por
reformulações nos departamentos de captação de atletas. Famoso olheiro
que servia à DIS e foi contratado pelo Corinthians no início do ano,
Adriano Marabá foi demitido porque simplesmente não fazia mais sentido
tê-lo para aliciar jogadores de outras equipes nas competições de base.
Mas ainda há exceções…
O centroavante Mosquito, ex-Vasco e
goleador do último Sul-Americano Sub-15, perdeu praticamente toda a
temporada porque não encontrou um clube para assinar o primeiro contrato
profissional, firmado aos 16 anos. Fiel ao acordo firmado na CBF, o São
Paulo chegou a anunciar ter recusado Mosquito, cujo empresário é o
argentino Gustavo Arribas, ligado ao Macaé-RJ e ex-sócio de Kia
Joorabchian. O Atlético-PR quebrou o pacto e acertou com o atacante, o
que revoltou outras equipes.
Nesse momento, coordenadores de base se
unem para solicitar a exclusão dos atleticanos das principais
competições de base do País. A própria CBF, extraoficialmente, admite
aderir a esse pedido.
Entenda como funciona o roubo de atletas
Segundo a legislação esportiva, só é
permitido firmar contratos profissionais com jogadores que tenham 16
anos completados. Isso funciona como brecha para clubes e investidores
aliciarem jovens Sub-16 a se transferir sem ter a necessidade pagar o
clube formador, desprotegido juridicamente. Emenda recente da Lei Pelé,
entretanto, fortaleceu as equipes formadoras, o que teve efeito quando
somado ao pacto estabelecido pela CBF. O acordo, firmado em abril, foi
iniciativa de Mano Menezes e Ney Franco.
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