sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Contra “roubo” de atletas, CBF moraliza base e afasta investidores

O futebol de base brasileiro definitivamente vive outros tempos no que diz respeito a seu mercado. Em um raro momento em que a CBF cumpriu seu papel de entidade que deve gerir o esporte de verdade, o acordo contra “roubos de atletas”, firmado no fim de abril, surtiu efeito quase imediato e certeiro. A ponto até de afastar agentes importantes do processo.

Sem a possibilidade de intermediar negociações entre equipes brasileiras, os fundos de investimento colocaram o pé no freio e tiraram seu foco desse mercado. Em especial, a DIS e a Traffic, que rivalizavam no ramo e hoje já têm outros objetivos. “Basta haver qualquer indício de roubo de atletas que os próprios coordenadores de base comunicam por e-mail. Imediatamente, a mensagem chega para todos os representantes de clubes”, diz ao Terra um dos cerca de 40 dirigentes que formam essa lista. 

A Traffic, que gere o Desportivo Brasil, por exemplo, já havia reduzido seu investimento de modo geral, algo que naturalmente incidiu sobre seu clube. Nesse momento, a prioridade é negociar seus jogadores com equipes maiores em busca de um lucro em nova transferência, a longo prazo, para o exterior. São Paulo, Fluminense, Palmeiras e Internacional, por exemplo, já realizaram parcerias com a Traffic. 

Já a DIS (braço esportivo do Grupo Sonda) concluiu, ainda no fim do ano passado, que deveria mudar seus planos. Atrás de lucros mais rápidos, ainda que eventualmente menores, deslocou sua observação para atletas já profissionais de divisões inferiores, em especial a Série B do Campeonato Brasileiro. 

O acordo firmado na CBF também impactou dentro dos grandes clubes brasileiros, que em alguns casos passaram por reformulações nos departamentos de captação de atletas. Famoso olheiro que servia à DIS e foi contratado pelo Corinthians no início do ano, Adriano Marabá foi demitido porque simplesmente não fazia mais sentido tê-lo para aliciar jogadores de outras equipes nas competições de base. Mas ainda há exceções…

O centroavante Mosquito, ex-Vasco e goleador do último Sul-Americano Sub-15, perdeu praticamente toda a temporada porque não encontrou um clube para assinar o primeiro contrato profissional, firmado aos 16 anos. Fiel ao acordo firmado na CBF, o São Paulo chegou a anunciar ter recusado Mosquito, cujo empresário é o argentino Gustavo Arribas, ligado ao Macaé-RJ e ex-sócio de Kia Joorabchian. O Atlético-PR quebrou o pacto e acertou com o atacante, o que revoltou outras equipes. 

Nesse momento, coordenadores de base se unem para solicitar a exclusão dos atleticanos das principais competições de base do País. A própria CBF, extraoficialmente, admite aderir a esse pedido.  

Entenda como funciona o roubo de atletas
Segundo a legislação esportiva, só é permitido firmar contratos profissionais com jogadores que tenham 16 anos completados. Isso funciona como brecha para clubes e investidores aliciarem jovens Sub-16 a se transferir sem ter a necessidade pagar o clube formador, desprotegido juridicamente. Emenda recente da Lei Pelé, entretanto, fortaleceu as equipes formadoras, o que teve efeito quando somado ao pacto estabelecido pela CBF. O acordo, firmado em abril, foi iniciativa de Mano Menezes e Ney Franco.

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