Libertado depois de ser preso injustamente,
 o ator Vinicius Romão denunciou a existência de outros “Vinícius” 
dentro das prisões do Rio de Janeiro. Um deles seria Rafael Braga 
Vieira, 26 anos, um catador de rua preso e condenado a cinco anos de 
prisão depois dos protestos do dia 20 de junho, durante a Copa das 
Confederações. De acordo com a sentença do juiz Guilherme Schilling 
Pollo Duarte, não há dúvidas de que Rafael, conforme testemunho de dois 
policiais civis, levava dois coquetéis molotov: uma garrafa de 
desinfetante e outra de água sanitária.
"Estava chegando do trabalho e me pegaram com uma 
garrafa de pinho sol e água sanitária na mão, me agrediram, esvaziaram a
 garrafa, colocaram um pano na ponta e me levaram para a delegacia 
dizendo que era coquetel molotov” contou Rafael ao Terra,
 em uma entrevista exclusiva feita dentro do presídio Elizabeth Sá Rego,
 uma das 26 unidades prisionais do local, mais conhecido como Bangu 5.
Nunca tive contato com nenhum manifestante aqui dentro. Nem faço ideia do motivo porque eles se manifestam
Rafael Braga Vieira
 catador de rua preso
Mesmo com o lema de não deixar ninguém para trás, os 
grupos de manifestantes que chegaram até a ir para a porta do presídio 
exigir a liberação de Jair Seixas Rodrigues, o Baiano, um de seus 
líderes, parecem ter se esquecido que Rafael também está preso por conta
 das manifestações. “Nunca tive contato com nenhum manifestante aqui 
dentro. Nem faço ideia do motivo porque eles se manifestam. Só sei que 
fui preso e estou condenado,” disse o rapaz, que conta que recebeu 
poucas visitas até mesmo dos advogados que atuam na liberação de 
manifestantes presos. “Faz umas três semanas teve um aqui e disse que ia
 tentar um habeas corpus, mas não sei de nada mais,” conta, com frases 
curtas, mãos entrelaçadas, alguns poucos dentes na boca e cabeça sempre 
baixa, envergonhado com sua própria situação.
Conhecido na feira de antiguidades e quinquilharias que 
funciona na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro, Rafael já tem uma 
condenação por furto, o que fez o juiz aumentar sua pena inicial de 
quatro anos e negar um pedido de liberdade condicional. “Eu vendia peças
 raras, usadas, coisas que achava na rua. Era uma espécie de 
garimpeiro”, conta. “Dava para tirar um bom dinheiro por mês e ajudar 
minha mãe e meus sete irmãos.”
No dia do protesto, Rafael vagava pelas ruas do Rio de 
Janeiro, como centenas de pessoas fazem todas as noites, em busca das 
suas raridades. Seu azar foi entrar numa loja abandonada e ter a ideia 
de levar os dois potes encontrados para a tia. Quando saiu, se deparou 
com uma confusão generalizada e acabou detido.
Há nove meses Rafael não sabe da mãe, nem dos irmãos. Passa os dias deitado, vendo TV (por onde soube da morte do cinegrafista da Band Santiago
 Andrade) e fica na parte do presídio destinado a membros da facção 
criminosa da comunidade onde vivem os parentes. “É uma forma de garantir
 a segurança dele”, conta um funcionário do presídio. Rafael pensa em 
estudar na escola que funciona dentro do presídio. Mas sonha mesmo em 
que alguém olhe com carinho para o seu caso, que o tire de lá, para 
voltar a trabalhar “com carteira assinada”, para quem sabe um dia voltar
 a ver o mar da praia da Atalaia, em Aracaju, onde foi criado. Até lá, 
só lhe resta esperar.

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