terça-feira, 1 de agosto de 2017

Ônibus param de circular no Engenho Velho da Federação após morte de jovem

Quem circula pela região do Engenho Velho da Federação precisa ficar atento. Os ônibus deixaram de entrar no bairro desde às 15h30 desta terça-feira (1º). O motivo foi a insegurança que surgiu depois que um morador foi assassinado na comunidade e moradores fizeram um protesto pedindo por justiça. 

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários, Fábio Primo, a decisão foi para garantir a segurança dos motoristas e cobradores, e uma reunião será realizada nesta quarta-feira (2) para avaliar a situação.

“Nós vamos fazer uma avaliação amanhã junto aos órgãos, Semob, PM e empresas, para ver a possibilidade de retornar a rodar no bairro. Mesmo com bastante polícia no local, a gente ainda sente uma insegurança”, disse. 

Os ônibus estão fazendo a parada nas imediações do posto de combustível que fica na entrada do bairro. Os passageiros são obrigados a descer e seguir andando. Para quem mora no final da rua a caminhada é de cerca de 700 metros. O sindicato ainda não sabe quando o serviço voltará à normalidade.
Morte
O vai e vêm de carros e pedestre da Rua Apolinário de Santana, no Engenho Velho da Federação, foi interrompido na tarde desta terça-feira. Moradores contaram que por volta das 11h30 quatro policiais militares chegaram no bairro, na comunidade do Forno, para fazer uma operação, mas que foram agressivos com os moradores.

"Eles fizeram o de sempre: deixaram a viatura na Ladeira do Escorpion e desceram a pé. Chegaram xingando todo mundo e mandando todo mundo sair da frente. Um vizinho reclamou e eles se alteraram, atiraram a esmo. Foi um corre-corre na rua", contou uma mulher que, com medo de represália, pediu para não ser identificada.

O pintor Alisson Gonçalves Conceição da Silva, 19 anos, estava saindo da casa de uma vizinha quando a confusão começou. Segundo os moradores, às 11h30 havia muitas crianças na rua que voltavam da escola e Alisson teria tentando ajudar alguns dos meninos a correr, foi quando foi atingido. "Os policiais nem viram quando ele foi baleado, só perceberam depois que ele caiu", afirmou outra mulher. 

Existem duas versões a partir daí: alguns vizinhos dizem que Alisson ainda conseguiu correr depois que foi baleado, mas caiu em uma vala alguns metros à frente. Outros moradores contaram que foram os próprios policiais que jogaram o corpo do jovem na vala. Depois da confusão, os militares teriam retornado para a viatura e foram embora.

Protesto
Alisson morava desde criança com o pai e o casal de avós. Foi o pintor Aloísio Gonçalves, 61, quem ensinou o ofício ao neto. "Ele ia para o trabalho comigo desde que era pequeno. O pai dele também é pintor, então, ele aprendeu cedo. Hoje, eu fui na farmácia e quando voltei encontrei uma vizinha que veio correndo me contar que ele tinha sido baleado. Corri para o local, mas ele já estava sem vida", contou o idoso, emocionado.

Amigos de Alisson tentaram socorrer o pintor, mas, quando perceberam que ele havia morrido, colocaram o corpo sobre uma tábua de madeira e levaram até a entrada do bairro. Ele foi deixado sobre a calçada, na Avenida Cardeal da Silva, coberto com um lençol e pedaços de papelão. Revoltados, os manifestantes usaram lixo e outros materiais para bloquear a via. "Temos que fazer o protesto com o rosto coberto porque depois eles querem se vingar", afirmou uma mulher. 

Policiais militares da 11ª e 41ª Companhias Independentes da Polícia Militar (CIPM/ Barra e Federação) e da Rondesp acompanharam a manifestação, que durou cerca de 1h30. Os peritos e os investigadores do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) chegaram no local por volta das 14h30. Segundo os peritos, Alisson foi baleado duas vezes. A primeira bala acertou a face do jovem, enquanto a segunda entrou pelo tórax e saiu na altura das costelas.
Família
A mãe de Alisson, a auxiliar administrativa Ana Cristina Silva, 33, estava no trabalho quando recebeu a notícia. Ela mora na rua Apolinário de Santana, a mesma rua em que o jovem morava com os avós, e contou que ele estava acertando um trabalho nesta terça-feira. Alisson era o mais velho de quatro filhos. 

"Meu filho não era bandido. Eu sei que o tráfico é uma realidade, mas será que todo mundo que morre nos bairros pobres é envolvido com o tráfico? Ontem ele me mandou uma mensagem no celular, contando que ia acertar a pintura de uma casa hoje. Estava empolgado. A polícia matou ele, mas quem vai conseguir provar isso? Quem vai se importar com meu filho? Essa é a minha maior dor", disse. 

A família mora no Engenho Velho de Brotas há mais de 20 anos. Alisson era membro da igreja Universal há dois anos e frequentava os cultos na Catedral da Fé, no Iguatemi. Ele abandonou a escola quando era adolescente e passou a trabalhar como pintor. O jovem deixou um filho de 5 meses, que ele estava indo visitar quando foi morto.

Investigação
Depois que o corpo foi recolhido pelo Departamento de Polícia Técnica, os moradores retornaram para dentro do bairro. O CORREIO flagrou o momento em que três viaturas da Rondesp, que entraram acompanhando a multidão, fizeram alguns disparos. Houve nova correria e, segundo uma das moradoras, uma mulher ficou ferida. 

Em nota, a Polícia Militar informou que não teve registro de ocorrência no Engenho Velho da Federação nesta terça e orientou os moradores a procurarem a ouvidoria ou a corregedoria da PM para formalizar as queixas. Confira a nota na íntegra:

A 41ª CIPM, unidade responsável pelo policiamento na região do Engenho Velho da Federação, está no local acompanhando os manifestantes. Não temos registro de ocorrência sobre disparo de arma de fogo ou troca de tiros que resultou em morte no bairro. Portando, a PM solicita que os cidadãos formalizem o registro na Ouvidoria (0800 284 0011) e/ou na Corregedoria da Corporação para que seja realizada a devida apuração do fato. 

Questionada sobre os disparos feitos depois da manifestação, a Polícia Militar ainda não se posicionou. 

A Polícia Civil informou que Alisson foi morto por homens encapuzados, que teriam arrastado o corpo do jovem até o local onde os investigadores o encontraram. O homicídio ocorreu na Rua da Lama e as testemunhas ainda serão ouvidas.

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