Com a divulgação do relatório final do acidente com o voo AF 447, nesta quinta-feira, o órgão francês responsável pela investigação divulgou o registro de voz completo da caixa-preta da aeronave, que caiu no Oceano Atlântico em 31 de maio de 2009, matando 228 pessoas. "(palavrão) Nós vamos bater! Isso não pode ser verdade", diz o segundo copiloto da aeronave, Pierre-Cedric Bonin, 32 anos, que comandava o avião no momento da queda.
No final de julho de 2011, o Escritório de Investigações e Análises (BEA) divulgou a transcrição da caixa-preta, encontradas em maio daquele ano, mas sem a última frase, conhecida somente com a divulgação do relatório. A última frase do registro ilustra a conclusão da investigação, que indicou que os pilotos estavam desorientados e não compreendiam que estavam caindo: "Mas o que está acontecendo?", pergunta o segundo copiloto antes de cair no mar.
Confira o registro dos últimos momentos na cabine
"Temos os motores. O que está acontecendo?", diz o segundo copiloto, às 2h11min3s, após o alarme de perda de sustentação (stall) disparar.
"Não tenho mais o controle do avião agora. Não tenho mais nenhum controle do avião", responde o primeiro copiloto, que comanda o avião no momento. "Tenho a impressão de que a gente conseguiu velocidade".
Pouco depois, há um barulho na porta da cabine. O comandante de bordo volta à cabine, depois de ter sido chamado pelo segundo copiloto enquanto descansava. Fazia nove minutos que ele estava ausente da pilotagem. "Hey, o que vocês estão fazendo?", diz o comandante. "O que está acontecendo? Eu não sei", afirma o primeiro copiloto. "Eu não sei o que está acontecendo."
O alarme de stall para de soar por sete segundos, e depois retorna de forma descontínua. Os diálogos prosseguem da seguinte maneira:
(primeiro piloto): "Tenho um problema, eu não tenho mais o variômetro. Não tenho mais nenhuma indicação (de velocidade)."
(primeiro copiloto): "Eu tenho a impressão que estamos a uma velocidade maluca, não? O que vocês acham?"
(primeiro copiloto): "Agora está bom, agora deveríamos ter voltado a estabilizar as asas, mas ele não quer."
(comandante): "Asas estabilizadas. Horizonte seguro."
(segundo copiloto): "O que você acha? O que você? O que é preciso fazer?"
(comandante): "Eu não sei. Está descendo."
(primeiro copiloto): "A velocidade?"
O alarme stall volta a soar. O segundo copiloto prossegue:
"Você está subindo... Você está descendo, descendo, descendo, descendo."
(primeiro copiloto): "Eu estou descendo agora?"
(segundo copiloto): "Descendo."
(comandante): "Não, você está subindo agora!"
(primeiro copiloto): "Eu estou subindo? Ok, então vou descer."
(primeiro copiloto): "Na altitude, estamos em quanto agora?"
(comandante): "Não é possível..."
(primeiro copiloto): "Qual é a altitude?"
(segundo copiloto): "Como assim em altitude?"
(primeiro copiloto): "Sim, sim. Estou descendo agora, não?"
(segundo copiloto): "Sim, você está descendo."
(comandante): "É... Você... Você coloca as asas na horizontal."
(segundo copiloto): "Coloque as asas na horizontal."
(primeiro copiloto): "É o que eu estou tentando fazer."
(comandante): "Coloque as asas na horizontal."
O alarme estol para de apitar por dois segundos, retorna e depois para novamente 10 segundos depois.
Primeiro copiloto: "Estou tentando virar ao máximo à esquerda."
(primeiro copiloto): "O que está... Como pode que a gente continue descendo tanto?
(segundo copiloto): "Tenta ver o que você consegue fazer com os comandos do alto. Os básicos, etc."
(segundo copiloto): "Ao nível 100."
(segundo copiloto): "Nove mil pés."
(segundo copiloto): "Sobe, sobe, sobe, sobe."
(primeiro copiloto) "Mas eu estou empinando muito há algum tempo."
(comandante): "Não, não, não, não sobe."
(segundo copiloto): "Então desce."
(segundo copiloto): "Então me passa os comandos, me passa os comandos."
(comandante): "Atenção, você está empinando."
Segundo copiloto assume o comando do avião: "Estou empinando?"
(primeiro copiloto): "Bom, é o que é preciso fazer, nós estamos a quatro mil pés."
(comandante):"Vá, puxe!"
(primeiro copiloto): "Vá, puxe, puxe, puxe, puxe."
(segundo copiloto): "(palavrão) Nós vamos bater! Isso não pode ser verdade"
(segundo copiloto): Mas o que está acontecendo?
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