O Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar nesta quarta-feira a
constitucionalidade da reserva de vagas em universidades públicas por
meio das cotas raciais e a ação que contesta o perfil do estudante apto a
receber bolsas do Programa Universidade para Todos (Prouni). As duas
ações sobre as cotas raciais que serão analisadas pelos ministros a
partir das 14h foram movidas contra a Universidade de Brasília (UnB), a
primeira instituição federal a conceder vagas a estudantes negros, e a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que implementou um
programa voltado para alunos de escolas públicas e negros a partir de
2008.
A ação contra a UnB foi ajuizada em 2009 pelo DEM, que questiona a
reserva de 20% das vagas na instituição a estudantes negros. Segundo o
partido, essa política fere o princípio constitucional da igualdade nas
condições de acesso ao ensino superior. O programa foi instituído em
2004 e desde então já beneficiou mais de 5 mil alunos. "O sistema de
cotas da UnB é uma ação emergencial para recuperar as condições
históricas de preconceito com essa população. Estamos contribuindo para
que o Brasil sinta orgulho em falar que tem negro na universidade, na
ciência, e não só na música e no futebol", diz o professor Nelson
Fernando Inocêncio da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos
Afro-Brasileiros da UnB.
A estudante de Ciência da Computação Lizane Leite, que entrou na
universidade em 2009 pelo sistema de cotas, concorda que o programa
atende a população que sofre com o preconceito. "Só porque você entra
na universidade por meio das cotas não é porque você é mais burro que os
outros. Eu entendo como uma forma de beneficiar as pessoas que sofreram
preconceito durante toda a história do Brasil e que, como eu, ainda
precisam superar muita discriminação". Lizane tem 21 anos e está no
sexto semestre na faculdade. Ela conta que sempre estudou em escolas
particulares e que hoje se sente mais incluída socialmente do que na
infância e na adolescência. "Na universidade me sinto respeitada. Mas já
precisei superar muitos desafios por ser negra", afirma.
Contrário ao sistema adotado pela UnB, o professor emérito da
Universidade de São Paulo (USP) e docente de Antropologia da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, João Batista Borges Pereira,
defende que a política de cotas sociais - voltada para alunos de baixa
renda e de escolas públicas - é mais eficiente para resolver a
"disparidade de condições" no acesso ao ensino superior do que cotas
raciais. "Sou favorável à cota social porque ela beneficia o negro, que
hoje não tem acesso ao ensino no Brasil não pela sua cor, e sim porque é
pobre", afirma ao destacar que todos aqueles que não têm condições
financeiras de arcar com uma educação de qualidade merecem a reserva de
vagas, independente da cor.
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