domingo, 2 de dezembro de 2012

A 19 dias do "fim do mundo": religiosos duvidam do mito maia

Quase todas as religiões falam de um apocalipse, de uma renovação dos seres, do retorno de um messias ou de transições para novas eras. Mas elas não dão uma data para esses acontecimentos. Para muitas pessoas, esse dia está bem próximo: 21 de dezembro de 2012.

Há muitos rumores sobre 21/12/2012. Tem quem diga que a vida na Terra se extingue nessa data, como teria previsto uma profecia da civilização maia. Entre as catástrofes para o dia derradeiro, estariam chuva de meteoros, planetas em rota de colisão com a Terra, erupções solares e inversão dos polos. Pessoas estão se escondendo em bunkers, alertando familiares, estocando comida e até se refugiando em casas preparadas para os piores desastres. Até a Nasa lançou nota oficial sobre o assunto, com receio de suicídios coletivos prévios ao suposto apocalipse.

Por sorte, não há fatos nem lógica que corrobore os boatos. O psicanalista e espiritualista Lázaro Freire explica que tudo não passa de interpretações errôneas do calendário maia. Segundo Freire, não há profecias detalhadas de autoria da cultura maia sobre o que poderia acontecer com o mundo em 2012. O que existe é uma data final para o calendário maia, o qual se encerra neste ano. Mas, como a civilização foi exterminada por volta de 1500, no México, é compreensível que suas previsões não tenham ido mais longe.

Não se sabe explicar ainda por que o mito foi tão alimentado. Boa parte do que está escrito nos calendários "maias" que vêm sendo distribuídos recentemente contém elementos de outras culturas, como hexagramas (origem chinesa), chacras (origem hindu), entre outros que pouco ou não tem a ver com algo que teria vindo do México. Outro elemento que pode ter tumultuado o imaginário popular é o filme 2012, lançado em 2009. A obra, estrelada por John Cusack, mostra um grupo de pessoas tentando se salvar em um mundo repleto de ameaças, como erupções de vulcões, terremotos e tsunamis.

Outra correlação feita é a do conhecimento dos maias em relação à astronomia e às citações de uma nova era, mas muitos povos têm suas interpretações e previsões a respeito de diferentes eras. Para o membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, o teólogo Isidoro Mazzarolo, boatos sobre o fim do mundo foram muito comuns na história do Ocidente. Ele acredita, porém, que ninguém tenha conhecimento suficiente para identificar uma "causa eficiente" que possa provocar, de fato, a destruição do planeta Terra.

As religiões têm diferentes visões sobre o tema. Confira

Catolicismo

O teólogo e professor da PUC-RJ Isidoro Mazzarolo explica que a religião católica, em particular, e o Cristianismo, em geral, veem o fim do mundo como o Apocalipse. No Apocalipse Cristão, o fim do mundo está ligado à Segunda Vinda de Cristo e à instauração de uma nova terra e um novo céu. "(Para os católicos) a data desse acontecimento ninguém conhece, somente Deus sabe. É no livro de Isaías (o terceiro livro bíblico), como a restauração de Israel, depois do exílio da Babilônia e entendido como nova etapa da história do povo, governado por Deus", afirma Mazzarolo.

Evangélica

As religiões evangélicas pentecostais e não pentecostais têm uma visão similar à Católica: ninguém exatamente sabe quando acontecerá o fim do mundo. Entretanto diversos seguidores do Evangelho nos Estados Unidos estão estocando alimentos e outros utensílios como forma de preparação para um possível fim do mundo em 2012. De acordo com uma pesquisa encomendada pela CNN e pela revista Time, aproximadamente um terço dos 50 milhões de evangélicos americanos acreditam que o fim do mundo está próximo ,e que Israel terá um papel central no "desencadeamento dos eventos apocalípticos".

Muçulmana

De acordo com Gamal Foaud El Oumari, vice-presidente da Comunidade Muçulmana do Paraná e membro do Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos, os muçulmanos professam que apenas Allá sabe ao certo quando o mundo ruirá. Porém, segundo El Oumari, algumas profecias se concretizarão, mas os muçulmanos "devem saber diferenciar a profecia Divina da mundana, que é proferida pelos seres humanos. A profecia maia é vista dessa forma e não mereceria crédito".

No fim do mundo, na crença muçulmana, Deus virá para acabar com a injustiça e a opressão. Imam Mahdi, último sucessor do profeta Mohammad, viria junto com Jesus Cristo, para apoiá-lo a combater as injustiças na Terra.

Espiritismo

Segundo o vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, Geraldo Campetti Sobrinho, os Espíritas acreditam que a Terra vive um momento de transição, saindo de "uma fase onde impera mal para um mundo um pouco mais feliz". Para Sobrinho, na visão espírita, o bem venceria em outro mundo, mas que não é possível precisar uma data como na profecia maia. "Allan Kardec (que viveu até 1869, na França), em sua época, dizia que o processo de renovação da Terra já havia iniciado. Estamos todos sendo testados individualmente nesse momento de transição", explicou Sobrinho.

Judaísmo

Diferentemente das religiões Cristãs e do Islamismo, os judeus não acreditam que um Messias já tenha passado pela Terra. Portanto, na visão Judaica, o Messias ainda está por vir para preparar os humanos para uma nova fase, na qual o mundo seria mais elevado, e a natureza, transformada. "Antes disso, ainda acontecerá a Ressurreição dos Mortos, onde os justos são resgatados para viver essa época", afirmou o rabino Hugo Gitz. Segundo ele, não há uma data prevista para esse acontecimento.

Budismo

No Budismo, não existe uma menção específica ao fim do mundo. Entretanto há uma teoria similar ao que seria o Apocalipse das religiões Cristãs. A era Mappou significa término ou final - um momento de transformação, em cenário "atemporal" no qual os ensinamentos, práticas e efeitos do Dharma (lei natural) se ocultariam em função da ignorância dos seres.

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