As iniciativas golpistas propostas pela militância antipetista são sufocadas pela direção do PSDB, que rechaçou qualquer tipo de apoio e endosso. Já os surtos antidemocráticos de setores do PT são vistos com bons olhos por importantes setores do governo, que publicamente pregam o diálogo, mas na prática defendem a retaliação aos que não concordam com suas práticas. Em todos os momentos que o partido tentou discutir medidas para cercear a liberdade de expressão, o histórico de repressão da ditadura pesou e o Congresso, constrangido, não levou o tema adiante. Agora, a ideia do governo é criar mecanismos no âmbito do Ministério das Comunicações para criar entraves empresariais contra veículos considerados “inimigos”. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, defende a proposta: “A regulamentação da mídia é um debate que o Brasil tem que enfrentar”, afirma. Quem deve tocar o polêmico projeto é o ministro Ricardo Berzoini, de Relações Institucionais, mas que está de malas prontas para as Comunicações, no que depender dos anseios do PT.
Ao levantar bandeiras e propor iniciativas que reduzem o peso de um dos Três Poderes, no caso o Poder Legislativo, o PT também flerta com a defesa de um governo totalitário. O Congresso, no entanto, já dá mostras de que não vai assistir impassível à ofensiva. Dois dias depois do resultado das eleições, a Câmara mandou um claro recado para a presidente ao derrubar o decreto 8.243 do Planalto que criaria a Política Nacional de Participação Social. O decreto abriria a primeira fresta para a composição dos chamados conselhos populares, mecanismos de consulta pública que se transformariam em atalhos para que o governo debatesse diretamente com a sociedade civil reformas e aplicação de recursos da União, ocupando uma tarefa do Congresso. Para a oposição, a intenção do governo é aparelhar o processo de decisão governamental, a exemplo do que ocorre na Venezuela.
O texto determina que os órgãos da administração pública federal “deverão considerar” as novas regras, entre elas o desenvolvimento de mecanismos de participação dos “grupos sociais historicamente excluídos” e a consolidação “da participação popular como método de governo”.
A expressão “deverão considerar” é fundamental para o debate. O governo diz que não há obrigação do gestor de submeter os atos aos conselhos, apenas o estímulo. O trecho, no entanto, é ambíguo e permite interpretação contrária. Para piorar, como o decreto vinculava a coordenação dos grupos ao governo, especificamente à Secretaria-Geral da Presidência, abriu-se um flanco para que os selecionados para participar dos conselhos fossem militantes petistas. Com isso, mesmo em caso de alternância de poder, o PT sempre teria assento nos foros de decisões governamentais, aparelhando conselhos consultivos criados por ele. O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) disse que a rejeição do decreto foi educativa para Dilma. “Isso aconteceu (a derrota) para manifestarmos que o discurso de diálogo, pregado pela presidente, não pode ficar só na teoria”, afirmou.
A estremecida relação entre Executivo e Legislativo ganhou mais um capítulo com a insistência do governo em forçar o Congresso a aprovar a reforma política por meio de um plebiscito. Constitucionalmente, o Legislativo é soberano para atuar na produção de reformas legais e criação de novas normas. O acionamento da participação popular para interferir em uma atividade de parlamentares legitimamente constituídos para representar o povo também entrou para o hall das ofensivas antidemocráticas que marcam o período pós-eleitoral.

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