Uma família se recusa a enterrar uma jovem dada como morta desde domingo na cidade de Rio Largo, em Maceió. Debora Isis Mendes de Gouveia, de 18 anos, estava sob cuidados médicos em casa há cerca de um mês com "uma virose", segundo a irmã dela, Marta Gouveia, de 21 anos. Ela deu entrada no Hospital Geral do Estado (HGE) no dia 6 de novembro com diagnóstico de infecção urinária e depressão. Após ser medicada com um calmante e ter uma convulsão, precisou ser transferida para um hospital particular da região. No último domingo, a jovem teria morrido após um quadro de infecção generalizada e um enfarto, segundo a irmã.
Para a família, no entanto, Debora não estava morta. Ela já tinha precisado passar por uma reanimação cardíaca na última quinta-feira e no domingo teria tido a última. Os familiares, então, optaram por acionar uma funerária e levaram o corpo da jovem para casa. O caixão ficou dentro da sala da residência até esta terça-feira.
— Eu acho que não reanimaram ela no domingo. Deixaram ela morrer. Fizemos todos os exames nela e falaram que ela estava com diabetes também. Depois, teve a infecção generalizada e os rins pararam. No domingo ela piscou um olho, estava respirando fraquinho. Ela se mexeu. Procuramos um médico daqui de perto, mas ele tem problemas com a minha família e se recusou a atender. O corpo ficou no caixão, na nossa sala. Checamos o tempo todo, estávamos abrindo os olhos dela para ver se tinha o brilho, verificamos a pele dela, a temperatura também estava tudo normal. Verificamos até a pressão dela, mas não dava nada. Era muito fraca — contou Marta.
Diante do caso, vizinhos e curiosos se aglomeraram na residência da família. Um vídeo mostra a confusão no local após a polícia retirar o corpo no caixão fechado. Nesta terça-feira, a Polícia Civil foi acionada. O delegado da 12º DP (Rio Largo), Manuel Wanderley Cavalcante, junto com o Ministério Público Estadual, ordenou o recolhimento do corpo para o Instituto Médico Legal, onde a morte de Debora foi atestada.
— O óbito dela foi constatado pelo hospital às 14h10 do domingo. A unidade emitiu uma certidão de óbito e liberou o corpo. O procedimento certo era ir direto para o serviço de verificação de óbito do estado. Mas a família pegou o corpo, chamou uma funerária e levou para casa. No mesmo dia, por volta das 21h, eles disseram que ela respirou. Colocaram na cabeça que ela estava viva. Passou a segunda-feira e eles não procuraram ninguém. Hoje fui lá, sustei o velório, isolei a área e transladamos o corpo para o IML. Lá constataram a morte dela — disse o delegado.
Ainda segundo ele, um procedimento foi instaurado para apurar a real causa da morte e a data do óbito:
— O que nos intriga e que vamos investigar é se ela realmente faleceu às 14h10 do dia 12 ou se morreu posteriormente por asfixia provocada pelos algodões colocados no nariz e no esôfago. Caso fique comprovado que ela morreu depois, o hospital será responsabilizado.
A irmã de Debora contou que a família retirou os algodões do nariz da jovem, mas manteve os que estavam na boca.
— A enfermeira disse que se a gente retirasse iríamos sentir um mau cheiro. Tiramos apenas o do nariz. Mas acho que ela morreu por falta de atendimento médico — disse a jovem.
Um vídeo gravado no domingo e que circula pelas redes sociais mostra Debora dentro do caixão e diversas pessoas em volta do corpo. Uma pessoa mexe nas mãos da jovem e o dedo dela se move. O delegado afirmou que já intimou a pessoa que gravou as imagens para prestar depoimento.
— A pessoa já foi intimada e vamos checar o vídeo. Mas não é incomum que seja um espasmo. Eu nunca me vi em uma situação dessas. Tenho 38 anos de polícia e é a primeira vez que vejo um caso deste tipo — explicou o delegado.
O corpo da jovem passará por necropsia na tarde desta terça-feira. O resultado da perícia será encaminhado ao delegado até a próxima quinta-feira, segundo ele.
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