Durante os três dias em que ficou foragido, Stefanno de Jesus Amorim, principal suspeito de matar a ex-mulher a facadas, escreveu uma carta de 10 páginas, escrita a mão em caneta vermelha, para explicar a motivação do assassinato. Ele foi preso nesta terça-feira (17), confessou o crime e afirmou que matou a funcionária do Ministério dos Direitos Humanos por ciúme.
Em um trecho da carta, ele escreveu: "Ela mudou muito comigo em um mês e não deixava eu ver as minhas filhas. Me deixava muito nervoso". No fim, se dirigiu à família da ex: "Sei que vocês me entregaram ela de coração e eu acabei a devolvendo desta forma".
Stefanno foi capturado na quadra 500 do Recanto das Emas por volta das 16h, depois de uma denúncia anônima. Ele estava escondido na casa de uma irmã. O suspeito vai responder por feminicídio – crime de ódio motivado pelo gênero, cuja pena varia de 12 a 30 anos.
A vítima, Janaína Romão Lúcio, de 30 anos, era funcionária do Ministério dos Direitos Humanos e tinha duas filhas com o agressor – de 2 e 4 anos. Ela foi morta com cinco facadas no peito e nas costas na tarde de sábado (14), quando buscava as meninas na casa do pai.
De acordo com o delegado Alberto Rodrigues, que coordena as investigações, Stefanno disse que estava desconfiado que Janaína tivesse um relacionamento com outro homem. "Ele indagou mais uma vez: 'Você está me traindo? Com quem você está me traindo?' A vítima silenciou." Eles estavam separados havia cerca de um ano.
"Ele disse que estava diante daquele ditado 'quem cala consente' e deu o primeiro golpe em direção ao coração. O tio entrou em luta corporal com ele pra tomar a faca, a vítima conseguiu sair da casa e, já na calçada do lote vizinho, se aproximou dela e desferiu mais três golpes de faca."
No sepultamento da filha, nesta segunda (16), o pai de Janaína, Edgar Soares Lúcio, de 67 anos, disse que nunca aceitou o relacionamento e que deseja a pena máxima para Stefanno.
"Eu nunca aceitei ele na minha casa. Dizia que, se ele virasse homem, eu seria o primeiro a abrir a porta da minha casa. Ele batia demais nela e eu não aceitava isso."
Histórico de agressão
A Justiça havia concedido duas medidas protetivas a Janaína após denúncias de violência doméstica contra Stefanno. A primeira foi em 2014 – quando ele tinha 17 anos – e a segunda, no ano passado.
Nas duas ocasiões, segundo o Tribunal de Justiça, menos de um mês após decisão judicial, o pedido foi retirado por Janaína com a alegação de que os dois haviam reatado o relacionamento.
Stefanno tem passagem na Polícia Civil por briga, porte e uso de drogas, além dos registros com base na Lei Maria da Penha, de acordo com o delegado Rodrigues. Somada às infrações cometidas quanto era menor de idade, a ficha dele alcança 16 passagens.
"Ele praticou atos infracionais mediante emprego de violência ou grave ameaça às vítimas. Na maioridade, foi autuado por briga, porte e uso de drogas, além da Maria da Penha", enumerou o delegado.
"Ele chegou a matar quando era menor."
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