sábado, 7 de junho de 2014

Artista que costurou vagina em universidade recebe ameaças

A artista que costurou a própria vagina com uma bandeira do Brasil dentro durante uma performance intitulada de “Xereca Satânik”, campus de Rio das Ostras (RJ) da Universidade Federal Fluminense (UFF), está sofrendo ameaças. Segundo o jornal Extra, Raíssa voltou para Minas Gerais, onde mora, e evita dar entrevistas por conta do assédio.

A manifestação artística foi realizada no dia 28 de maio por integrantes Coletivo Coyote e gerou polêmicas após ser divulgada na internet. Na performance, a artista insere uma bandeira do país no órgão genital, costura, com a ajuda de colegas, e queima a flâmula em uma fogueira.

"As pessoas dizem que vão matar, dar tiros. Ameaçam os filhos dela. Ela corre riscos brabos mesmo, recebe ameaças pela internet. As pessoas são malucas. A Raíssa põe o corpo dela como forma política, ela é uma guerrilheira dos nossos dias. Admiro ela por isso. Espero que não haja uma caça às bruxas" defendeu em entrevista ao Extra o chefe do Departamento de Artes e Estudos Culturais do Instituto de Humanidades e Saúde da UFF, Daniel Caetano.

Segundo os organizadores, a performance fazia parte da festa de confraternização do "II Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas UFF/CNPq: Cultura e Cidade Contemporânea - arte, política cultural e resistências" e se tratava de um protesto contra a violência e os estupros registrados na região da própria universidade.

Defesa
Além do professor chefe do departamento de Artes, os professores do curso de Produção Cultural de Niterói divulgaram apoio à manifestação. Em nota, eles se dizem espantados com a reação ao “Xereca Satânik”.

“Causa-nos espanto o grau de estranheza e criminalização com a qual tanto a perfomance da artista Raíssa, quanto a própria universidade foram tratadas nos últimos dias. Por se tratar de um espaço de experimentação de linguagens e reflexão - com seus evidentes riscos de choque à moral e ao senso comum -, é justamente na universidade onde devem ser expostos os descontentamentos, estimulados os debates, e negados quaisquer vícios de censura”, diz nota.

Um texto divulgado no Facebook na terça-feira (3), o professor Daniel Caetano diz que o evento foi uma “performance para chocar” e declarou “apoio total aos organizadores”.
Fotos mostram pessoas nuas em festa (Foto: Reprodução/Facebook)
"A costura de partes do corpo, inclusive da região genital, não é novidade para qualquer pessoa que tenha lido mais de um parágrafo sobre arte contemporânea posterior aos anos 1970. Sugiro a quem quiser saber mais sobre o assunto que pesquise os trabalhos de pessoas como Marina Abramovic e Lydia Lunch. A performance tinha como um dos objetivos denunciar a constante violência contra mulheres na cidade de Rio das Ostras, onde as ocorrências de estupros estão entre as maiores do país. O caso é que foram feitas e divulgadas fotos do evento - o que deu a ele uma dimensão política e social que vai muito além dos muros do Pólo, tornando-se tema de blogs sensacionalistas e da imprensa marrom", escreveu o professor.
Cartazes de apoio à performance apresentada na UFF
Grupo apoia performance (Foto: Reprodução/Facebook)
Investigação
A reitoria da universidade abriu uma sindicância para investigar as denúncias sobre uso de drogas e álcool na unidade durante o "Xereca Satanik". As denúncias relatam que aconteceu no local uma festa com orgias e rituais satânicos.

Alguns alunos fizeram imagens na festa. Mulheres nuas e mascaradas aparecem em várias delas. Um crânio humano também aparece em uma das fotos. Bebidas que ficavam em novo anexo da UFF foram usadas na festa. "A festa ocorreu ao lado do prédio novo chamado multiuso. O diretor do polo permitiu o armazenamento de bebidas dentro da universidade. O uso de drogas é praticamente liberado. Precisamos de uma intervenção urgente", contou um aluno ao G1 local.
A performance representou uma espécia de ritual contra a violência
Protesto seria contra a violência às mulheres em Rio das Ostras (foto: Reprodução/Facebook)
O reitor da UFF, Roberto Salles, diz que além da sindicância também foi proibido que diretores do polo falem sobre as festas. Ele disse que possíveis responsáveis serão punidos.

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