Quatro anos como titular, 151 jogos disputados, um acesso da Série B para a Série A e dois títulos estaduais. Fernando Miguel colecionou bons momentos no Vitória. Mas o ciclo do goleiro chegou ao fim. No início da tarde desta terça-feira, ele embarcou com destino ao Rio de Janeiro para realizar exames e acertar os últimos detalhes do contrato com o Vasco. Liberado pelo Rubro-Negro, o jogador deve assinar vínculo com o Gigante da Colina válido até o fim de 2019, como substituto de Martín Silva, que desfalcará o time durante a preparação para a Copa do Mundo.
A primeira passagem de Fernando Miguel pelo Vitória foi em 2013, contratado junto ao Juventude, mas ele sequer jogou. Retornou ao clube na temporada seguinte e, a partir de 2015, começou a ganhar espaço na equipe. Seguiu como titular da meta rubro-negra até o último mês de abril, na primeira partida contra o Internacional pela Copa do Brasil, quando foi repentinamente substituído por Caíque. Desde então, o goleiro ficou no banco de reservas. A situação provocou desconforto, mas ele garante que não foi fundamental para a decisão de deixar a Toca do Leão.
- Não vou te falar que a reserva. Já tive outros momentos em que fui reserva. Fui reserva em 2015, reserva em 2014, reserva em 2013, em 2016. Sempre tive algum momento em que tive que ir para a reserva. De uma forma respeitosa, de uma forma tranquila. Nesse momento, só entendi que era um ciclo que estava se encerrando, não tem relação nenhuma com minha saída da equipe titular. Foi um momento de entendimento que era o encerramento de um ciclo. Por isso, tomamos a decisão – contou o goleiro ao GloboEsporte.com, momentos antes do embarque para o Rio de Janeiro.
A reserva gerou questionamentos sobre a relação entre Fernando Miguel e Vagner Mancini. O goleiro garante que não teve problemas com o técnico.
- As pessoas têm perguntado muito a respeito disso, achando que tive algum tipo de conflito, algum tipo de atrito com Mancini. Jamais. Não tive nenhum tipo de problema, nunca tive nenhum tipo de problema com Mancini. Se vocês forem analisar, 80% dos meus jogos [pelo Vitória], até 90% talvez, foram sob o comando do Mancini. O Vitória tem vivido anos de instabilidade na Primeira Divisão. Isso gera mudanças, trocas, os técnicos tomam suas decisões. Mancini me chamou antes de tomar a decisão, de fazer a troca, falando que a faria. Eu, de forma tranquila e respeitosa, acatei. Trabalhando todos os dias cada vez mais e procurando ficar à disposição para aquilo que poderia fazer. A decisão foi pelo entendimento técnico, e ele tem todo o direito.
Fernando Miguel também afirma que não teve qualquer desentendimento com Caíque. Antes de deixar o Vitória, o goleiro conversou com o jovem colega de posição. Na despedida, desejou sorte a todo o grupo rubro-negro.
- Conversamos. Desejei sorte para o Caíque, desejo sorte para Ronaldo, para o Diego [Washington], desejo sorte para a comissão técnica, para os atletas. Desejo o melhor para o clube. Saio com amigos, não saio com colegas. Saio com amigos daqui. Espero que consigam avançar no que eles querem fazer. Desejo sorte a todos.
Passado e futuro
Na coletiva de imprensa concedida após a partida conta o Fluminense, Vagner Mancini disse que a decisão de deixar o Vitória partiu de Fernando Miguel. O goleiro confirmou a versão do técnico, destacou que a agitação política do clube não teve qualquer influência na decisão e falou em “encerramento de ciclo”.
- É preciso entender que a decisão pelo enceramento do ciclo, a sensação, o sentimento, foi meu. O presidente me deixou à vontade para tomar a decisão que eu entendesse que fosse a melhor para mim e para o Vitória. Entendi que esse momento era o melhor para mim e para o Vitória. Só tenho a agradecer a todos os presidentes que passaram pelo clube. A parte política, esse momento turbulento que vem passando nos últimos anos, precisa ser separada por aqueles que são responsáveis pela política do clube e nós que somos atletas. Nós não temos acesso à parte política. Meu papel é trabalhar todos os dias e entregar para o Vitória o melhor profissional, o melhor goleiro, o melhor atleta possível. Só tenho a agradecer a cada gestão que passou no clube, a cada comandante, a cada pessoa que tentou contribuir.
Do período como titular no Vitória, Fernando Miguel conseguiu grande destaque na Série B de 2015, quando defendeu pênaltis em sequência e foi decisivo para o Rubro-Negro subir de divisão. Ele aponta a Segunda Divisão como um dos melhores momentos que teve pela equipe baiana. Também lembra com carinho da campanha de recuperação no Campeonato Brasileiro de 2017.
- Acho que a Série B de 2015 foi muito boa. No ano passado, a retomada com a chegada do Mancini. Vencemos o Corinthians, não sei há quanto tempo o Vitória não vencia o Corinthians em São Paulo, ou nunca tinha vencido. Vencemos o Flamengo de maneira grandiosa no Rio de Janeiro. No ano passado, apesar de todos os problemas, de toda a dificuldade, de brigar contra o rebaixamento, foi um momento de retomada, e me deixa orgulhoso ter conseguido virar um momento difícil do clube. Em 2016, a mesma coisa, nosso empenho foi para reverter situações muitas vezes decretadas como irreversíveis. Não consigo chegar e escolher um momento. Todos os momentos no Vitoria para mim foram intensos e marcantes.
Como último recado antes de tomar novos rumos, Fernando Miguel alerta que o passado serve de lição para o futuro. Assim como na temporada passada, o Vitória iniciou mal o Campeonato Brasileiro, com um ponto conquistado em quatro rodadas. A zona de rebaixamento já aparece como ameaça ao time baiano, que nos últimos dois anos encerrou a Série A na 16ª colocação.
- É bastante cedo, mas, da mesma forma que ficamos alarmados ano passado, ficamos esse ano também. Todos ficam preocupados, cheios de falta de confiança, muitas vezes. Mas é o momento de o grupo ficar unido, próximo, a equipe tem potencial, mostrou isso ano passado, reverteu um momento dramático ano passado. Então está no início, foram quatro rodadas, a equipe tem todo o potencial possível e possibilidades para vencer dentro da competição. O Vitória vai trilhar um bom caminho, um bom horizonte, e minha torcida é essa. Espero que o Vitória se estabilize dentro da competição. Se não me engano, na era dos pontos corridos, o máximo de tempo que o Vitória ficou na Primeira Divisão foram três anos. Espero que esse grupo consiga entregar o que é preciso e faça uma boa temporada.
Sem Fernando Miguel, o Vitória passa a ter Caíque, Ronaldo e Diego Washington como opções para o gol. Em busca de um reforço para o setor, o clube negocia a contratação por empréstimo de Elias, reserva do Chapecoense.
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