quinta-feira, 5 de junho de 2014

Líder de quadrilha que assaltou carro-forte no Cabula usava muletas

Assim como os jogadores da Seleção Brasileira, a bandidagem em Salvador está muito bem fisicamente. Ontem de manhã,  um assaltante em ótima forma aplicou um drible bem ousado, ao usar muletas para se passar por deficiente e assaltar um carro-forte, na porta da agência do Banco do Brasil da Rua Silveira Martins, no Cabula. Ele contou com a ajuda de um companheiro de ataque, que fingia ler um livro, e mais oito homens. Na fuga, houve troca de tiros.















Por volta de 9h, enquanto as Forças Armadas faziam exercícios de segurança para a Copa em diversos pontos da cidade (veja página 22), o aposentado Eduardo Bispo, 63 anos, chegou ao Banco Itaú, agência vizinha ao Banco do Brasil. Ele e outras 20 pessoas, calcula, aguardavam a abertura das agências. Seu Eduardo notou que na entrada do Banco do Brasil tinham duas pessoas paradas. “Um rapaz lia um livro mais afastado da entrada, já na lateral, enquanto o de muleta estava bem próximo da porta. Cheguei a ficar com pena dele, num sol retado, naquela condição (de muleta)”, conta o idoso, que logo depois mudou de opinião. 

Seu Eduardo e outras testemunhas viram um carro-forte da Prosegur parar em frente ao banco. Dele desceram três seguranças — um mais à frente, carregando um malote, e os demais atrás, fazendo a escolta.  “No momento em que o primeiro segurança chegou perto da porta, o rapaz largou a muleta,  sacou a pistola, gritou ‘Perdeu!’ e encostou o cano na cabeça do segurança”, contou o aposentado. “Aí, o que estava lendo, também apontou a pistola no abdômen do mesmo segurança e, em seguida, outros quatro homens saíram do carro com escopetas”, relata Seu Eduardo. Esses quatro ladrões aguardavam a deixa dos doTiroteio 
De acordo com uma testemunha que não quis revelar o nome, enquanto os três seguranças estavam sob a mira de seis bandidos, outros quatro homens do bando permaneciam a uma certa distância em veículo não identificado, provavelmente alerta à presença da polícia. 

Depois de terem pego o malote, os bandidos andaram de costas, apontando as armas para todos os seguranças. Quando entraram no Fiesta, um dos seguranças abriu fogo contra os assaltantes, que responderam. Um dos bandidos teria sido baleado. 

“Foi uma agonia. Gente correndo para um lado e para outro. Pânico total”, contou a dona de casa Margarida Alves, 48, que tinha ido fazer um saque na agência do Itaú, que teve a fachada perfurada por duas balas. Um dos tiros acertou também a fachada da Drogaria São Paulo, que funciona entre as duas agências bancárias. “Foi terrível. As pessoas temiam uma bala perdida”, contou uma funcionária que pediu anonimato. A ação toda durou cerca de cinco minutos.

Fifa
Ainda segundo populares, cerca de dez minutos depois chegaram PMs da 23ª Companhia Independente (Tancredo Neves). Em seguida, uma equipe da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR), sob o comando da delegada titular, Francineide Moura, iniciou as investigações.

Após fazer buscas, a polícia localizou o New Fiesta branco abandonado na Rua Ilha dos Frades, nos fundos de um dos prédios do Conjunto Chopm I, que faz divisa com a Baixinha de Santo Antônio.  No carro, os policiais encontraram uma farda na cor laranja e, ao redor do veículo, roupas descartadas por integrantes da quadrilha (calça e camisas sociais). 

“Três homens tiraram as roupas às pressas, um deles jogou a chave do carro no mato e os três entraram no matagal que dá na Baixinha”, contou da janela uma moradora. No carro ainda havia uma credencial de acesso com a logomarca da Fifa. No banco de trás do carro, uma tabela com as datas dos jogos da Copa. 

A delegada Francineide disse que a placa do New Fiesta é de um EcoSport licenciado em Salvador, e que o carro usado pela quadrilha foi tomado de assalto durante um sequestro relâmpago no dia 23 de maio, no Conjunto dos Comerciários, no Stiep. A vítima trabalha numa empresa que presta serviços à Fifa, por isso os documentos referentes à Copa.

“ Um homem tinha chegado do trabalho quando foi abordado por dois ladrões armados”, contou a delegada. O homem só foi liberado horas depois na Barro Reis. “Passaram por vários caixas, mas a vítima não tinha dinheiro. Então, o liberaram”, disse Francineide. 

Até ontem à tarde, a titular da DRFR aguardava representantes da Prosegur para informar o montante roubado.  Ela informou que  já solicitou as imagens das câmeras dos bancos do Brasil e Itaú, além da Drogaria São Paulo. Ninguém foi preso.

Andador
Francineide acredita que a quadrilha pode ter sido a mesma que assaltou dois bancos em Salvador nos últimos meses. Nas duas situações, um dos ladrões, usando um andador deu início aos assaltos. “Já temos duas situações onde o elemento entrou com o andador. Vamos analisar as imagens para fazer uma comparação. Se for, já temos um indicativo”, declarou a delegada.

Uma das situações a que a delegada fez referência aconteceu em dezembro de 2013, no Bradesco do Itaigara. Três homens renderam os vigilantes e clientes da agência. Um deles conseguiu entrar com as armas usadas pelo grupo porque usava um andador e entrou pela porta para pessoas com deficiência. Os outros aguardavam dentro. Eles roubaram todo o dinheiro dos caixas e fugiram. Ninguém ficou ferido.  A segunda situação que a delegada mencionou ocorreu no início deste ano.

Comerciantes relatam situação de insegurança e tiroteios frequentes
Conforme relata o comerciante Raimundo de Oliveira, que trabalha há 20 anos em frente ao local onde aconteceu o assalto de ontem, na Rua Silveira Martins, no Cabula, não deu tempo de ver a ação dos bandidos. “Hoje (ontem), a gente estava aqui, nem deu tempo de ver o que era. Quando ouvimos os tiros, um cliente abaixou a porta e ficou todo mundo aqui dentro”, lembra. 

Segundo ele, não é o primeiro assalto com tiros na área. Um mês atrás, houve outra situação no Bompreço, a poucos metros dali. Os tiros não assustaram apenas quem viu a situação, de frente. Na Rua Parque do Flamengo, que fica atrás do prédio da agência, o porteiro Ananias Bispo conseguiu ouvir os disparos e avistou os bandidos em fuga. “Ouvi uns cinco tiros. Nessa época de São João, a gente confunde muito tiro com bomba. Mas disparo de arma de fogo tem um barulho diferente”, analisa. 

E completa: “Foi aí (momento dos tiros) que o pessoal disse que era assalto e mandou fechar o portão”. Ananias contou que não havia ninguém na rua, mas mesmo assim a polícia fez uma ronda, sem sucesso. “Eu vi eles (bandidos) fugindo com um carro branco depois que eles fizeram o assalto. Ainda fizeram uma ronda na rua, mas não acharam nada”, declara.

Quem também saiu assustado foi o ambulante Advan de Jesus, 48, que trabalha há dez anos bem em frente ao Banco do Brasil. “Eu ouvi os tiros, saí correndo e deixei tudo aí. Aqui tem de tudo. O que falta aqui é segurança. Outro dia mataram um rapaz aí na porta do mercado”, conta.

Ao lado da barraca dele, outro casal de ambulantes teve a sorte de não estar no local na hora do assalto. Em outras situações, os dois, que se identificaram apenas como Luzia e Luiz Alberto, já presenciaram tiros. Ela conta que os assaltos são constantes por conta da presença de instituições financeiras. “Aqui tem muita coisa que movimenta dinheiro. Tem loteria, tem os caixas eletrônicos, agora tem esse banco aí, ficou pior”, diagnostica.

Sobre a alegada situação de insegurança na região, a Polícia Militar informou, em nota, que o policiamento no local é coordenado pela 23ª CIPM, “que emprega viaturas rondas de radiopatrulhamento (motos e carros), além do reforço das unidades especializadas Esquadrão de Motociclistas Águia, Rondesp e Operação Gêmeos”.is comparsas no Ford New Fiesta branco (OVA-4635) parado de frente para a rua, estrategicamente posicionado já para a fuga. 

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