A lembrança mais viva que o soldador Jorge de Jesus, 45 anos, tem da filha Maira Dias de Jesus, 23, foi do último Dia dos Pais, quando comemoraram a data com um churrasco em Dias D´Ávila, Região Metropolitana de Salvador.
Naquele domingo, ele foi apresentado à namorada da filha, Laís Fernanda dos Santos, 25 anos. O que ele não sabia é que, menos de 15 dias depois, receberia a notícia do assassinato das duas, em Camaçari.
No final da noite de sexta-feira, Maira e Fernanda voltavam do camelódromo da cidade, onde trabalhavam, quando dois homens passaram em uma moto e atiraram contra elas, na Rua Manoel Mercedes. Fernanda foi atingida por dois tiros no tórax e mais um na cabeça. Maira recebeu um tiro na cabeça. Ambas morreram no local.
“Elas estavam felizes. Minha filha já tinha conversado comigo sobre o relacionamento”, conta Jorge de Jesus. Segundo ele, tanto Maira quanto Fernanda já haviam tido relacionamentos heterossexuais e se conheceram no camelódromo. Lá, passaram a trabalhar juntas vendendo DVDs e brinquedos.
Há cerca de dois meses, as jovens passaram a viver juntas num imóvel atrás da casa da família de Fernanda, no bairro Ficam. No Dia dos Pais, Jorge chegou a falar com o pai de Fernanda por telefone.
Ciúme
Mas, segundo vizinhos e familiares das vítimas, o relacionamento incomodava um ex-namorado de Fernanda, que não aceitava o fim do relacionamento. “Parece que foi um crime por vingança”, comenta o pai de Maira.
Ele se baseia num fato ocorrido na véspera do crime. “As meninas receberam ameaças por celular durante toda a quinta-feira”, comentou o soldador. O celular está em poder da polícia e vai passar por perícia.
O ex-namorado de Fernanda, Luciano Franco Pereira, 24 anos, afirma que não houve briga ao fim do relacionamento. “Terminamos porque não estava dando certo. Eu não gostava muito das amigas que ela tinha em Dias D’Àvila e de uns tempos para cá, ela toda hora ia pra lá”, diz o jovem, que esteve na cerimônia de enterro do corpo de Fernanda, em Camaçari.
De acordo com a delegada titular de homicídios da Região Metropolitana, Maria Tereza Santos Silva, foram traçadas duas linhas de investigação para o assassinato.
Sem revelar quais são estas linhas, a delegada diz que não acredita que o crime tenha sido motivado por homofobia. “Não posso revelar os caminhos da investigação para não atrapalhar na nossa ação”, disse ontem. Alguns familiares e pessoas próximas às vítimas já prestaram depoimento ontem na Delegacia de Camaçari, para auxiliar as investigações.
Homofobia
Se a delegada optou por não divulgar quais as hipóteses para o duplo assassinato, o presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira, não tem dúvida em afirmar que este foi mais um caso de “homofobia bárbara”. “O cara que fez isso é um monstro. É muito chocante e brutal matar duas meninas tão novas”, diz.
Cerqueira acrescenta que é preciso que o governo implante políticas públicas urgentes para que crimes com traços homofóbicos não fiquem impunes. “Sem dúvida, um monstro desse ainda torturou muito elas antes de fazer isso”, avalia o presidente do GGB.
O depoimento de parentes e amigos deixa transparecer que as duas jovens eram queridas por quem as conhecia. “Todo mundo gostava delas por aqui. De domingo a domingo estavam trabalhando lá no camelódromo. Elas não gostavam muito de farra, de festa. Era de casa para o trabalho e do trabalho para casa”, conta Jadson de Araújo, 21 anos, amigo do casal.“A família só quer que quem matou nossa menina pague por isso”, conclui o padrasto de Fernanda, Enedil Nunes dos Santos. Informações do Correio da Bahia.
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