sexta-feira, 11 de março de 2011
Carnaval tem espaço do folião nas ruas reduzido para camarotes
Dizer que o Carnaval é uma festa popular é quase uma contradição. A folia transformou-se há muito tempo em um verdadeiro apartheid. De um lado, os ricos curtindo o melhor da festa em luxuosos camarotes ou nos blocos mais concorridos; do outro, os foliões que se arriscam na pipoca e, entre eles, os cordeiros que trabalham duro para permitir o deleite dos mais afortunados. “É um Carnaval muito demagógico. Tem gente preocupada com os jegues, mas não se preocupa com os cordeiros, que mal bebem água”, critica o antropólogo Antônio Godi.
Enquanto isso, os donos de cervejarias, camarotes e alguns artistas baianos enchem os bolsos. Às vésperas da folia, o cantor Bell Marques, do Chiclete com Banana, resolveu raspar a barba em uma ação da Gillette - patrocinadora dos blocos Nana Banana, Camaleão e Banana Coral. Especula-se que a marca pagou ao cantor cerca de R$ 2 milhões.
Mas não há prenúncio de mudanças. A própria Prefeitura defende que o modelo deve ser sustentado sob a alegação de que a folia traz alta arrecadação ao município. No entanto, os números oficiais não sustentam o argumento: em 2009, o prejuízo com o Carnaval foi de R$ 17,4 milhões .
Camarotes enriquecem
O Camarote do Reino, que por dia comporta 2,5 mil pessoas, cobra entre R$ 270 e R$ 700 por ingresso. Nos seis dias de festa, o equipamento tem um lucro bruto em torno de R$ 7,2 milhões. O Camarote do Nana Banana, que tem um preço variando entre R$ 350 e R$ 690 e recebe aproximadamente dois mil foliões, coloca no bolso cerca de R$ 6,2 milhões. Já o Camarote Salvador, que carrega o preço mais exorbitante, chegando a cobrar R$ 1,2 mil por apenas um dia da festa, tem a capacidade de abrigar três mil pessoas, o que gera uma média de lucro de R$ 14,4 milhões.
Como se não fosse o bastante, os camarotes cobrarem caro para os foliões desfrutarem das mordomias nos equipamentos, eles estão cada vez maiores e reduzem mais ainda o espaço da pipoca.
Eva: o único sem cordas
Os principais blocos do Carnaval como o Camaleão, Me Abraça e Coruja recebem por dia cerca de 3,5 mil foliões cada um. Os três dias do bloco liderado pela Banda Chiclete com Banana, por exemplo, custam R$ 1,9 mil, o que gera uma receita bruta de R$ 6,650 millhões. Já o Me Abraça, comandado por Durval Lelys, custa ao bolso dos fãs cerca de R$ 1,8 mil. No final do Carnaval o grupo embolsa em torno de R$ 5,4 milhões. Já o bloco onde a cantora Ivete Sangalo faz a festa sai por R$ 1,3 mil, o que corresponde a R$ 4,940 milhões arrecadados nos três dias da folia. Mas, o Bloco EVA fez a diferença este ano entre os privados. Para tentar minimizar a segregação da festa, o bloco baixou as cordas na terça-feira de Carnaval, deixou de arrecadar R$ 500 mil, mas fez a felicidade dos foliões.
http://www.radiometropole.com.br
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário