Foi para vigiar a babá que os comerciantes Josiane
Martins e Jorge Paulo Lima instalaram câmeras escondidas em casa. Mas o
sistema de vigilância revelou um flagra de outro tipo: o prefeito e
candidato à reeleição na cidade de Tanhaçu, João Francisco (PT), e mais
dois correligionários em plena negociação para obter o apoio e os votos
do casal de moradores do município situado no Sudoeste baiano.
Durante quase três horas de gravação, o trio oferece
como moeda de troca para conquistar o apoio do casal promessa de
aprovação em concurso público e a possibilidade de vitória em uma
licitação para fornecer alimentos. O vídeo revela ainda indícios de
pagamento em dinheiro para que os comerciantes virassem aliados na
disputa pela prefeitura da cidade.
A prática, de acordo com o Artigo 41-A da Lei
Eleitoral (9.840/99), é enquadrada como crime de compra de voto. A
legislação proíbe “o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao
eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de
qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro
da candidatura até o dia da eleição”.
O material a que o CORREIO teve acesso foi gravado
nos dias 8 e 10 de setembro, através de uma câmera instalada na sala da
residência do casal, com o objetivo de monitorar a babá que cuida de
três filhos de Jorge e Josiane. Os primeiros minutos do vídeo mostram a
chegada do prefeito João Francisco, acompanhado de dois empresários
conhecidos na cidade como integrantes da linha de frente da campanha do
petista à reeleição: Cláudio Magalhães e Jairo Matos.
Por volta das 17h do último dia 8, os três começam a
conversar com o casal. O diálogo é quase que exclusivamente sobre a
disputa entre João Francisco e seu adversário na cidade, Jorge Teixeira
da Rocha, o Dr. Jorge, candidato do PSD apoiado pelos dois comerciantes.
Uma hora depois, começam as investidas para que ambos mudassem de lado
na briga eleitoral.
No trecho do vídeo registrado a partir de 18h40, o
prefeito intensifica as investidas: “O que é que a gente poderia
fazer?”, indaga João. “Você que manda”, diz Josiane, tratada todo o
tempo como Jô. Jairo Matos, que afirma nas gravações ser coordenador de
campanha, intervém e pede para que Jô fale. Novamente, o prefeito entra
na conversa: “O que é que a gente podia fazer pra gente não cair
novamente no erro, né?”.
Em seguida, Jô deixa claro que cabe ao grupo do
prefeito fazer uma proposta. “A gente tá com os ouvidos aqui pra
escutar, depois a gente analisa”, afirma. Matos insiste que é Jô quem
deve “falar”, posição reforçada logo depois pelo prefeito: “Minha filha,
em que a gente pode lhe ajudar, pra corrigir... e a gente continuar
juntos?”.
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