Religiões são associadas geralmente à tranquilidade
espiritual e reflexão, enquanto o MMA ainda é visto por um número grande
de pessoas como uma modalidade esportiva violenta. Unindo duas coisas
que na teoria são opostas, o Reborn Strike Fight 6 colocará dentro de
uma igreja um octógono e diversas lutas nesta sexta-feira.
Organizador do evento, Roberto Dantas Pedroso é
professor de artes marciais há 14 anos e cuida dos treinos das dezenas
de alunos que comparecem às segundas e quartas-feiras ao subsolo da
igreja Renascer da Avenida Morais Costa, no bairro da Vila Industrial.
A academia possui instalações humildes e utiliza um
espaço cedido gratuitamente pela instituição. Tudo no ambiente foi
criado pelas mãos de Roberto e seus pupilos, que montaram o espaço a
partir de materiais doados por estabelecimentos próximos.
Paredes e piso foram pintados pelos praticantes de MMA
no local, pessoas de idade, gênero e tamanhos diferentes. No último
treino realizado na academia antes do Reborn Strike Fight 6, o público
presente variava desde crianças com menos de dez anos a meninas
adolescentes e lutadores profissionais. Gratuitas, as atividades são
abertas e aceitam inclusive alunos que não frequentam a igreja.
"Nós recebemos todos os tipos de pessoas, até ateu, que
no fim sai falando Graças a Deus. Não tem que fazer parte da igreja
Renascer necessariamente. Nosso projeto é mostrar que a vida pode ser
melhor e, trazendo um pouco da palavra também. Levamos o treino sério,
dedicado, tanto que estamos com lutadores profissionais. No começo era
complicado, porque achavam que quem treinava na igreja não podia bater.
Hoje vê que não só pode bater, mas que você pode praticar o esporte,
independente se você tem um adversário na frente ou não. Nós temos essa
visão de que todos podem vir, participar; Se quiser fazer parte, seja
muito bem vindo", explicou Roberto.
Todos os presentes na academia participaram de primeira
parte das atividades, que duraram cerca de uma hora. Durante elas, os
alunos aqueceram e realizaram movimentos de lutas no ar, enquanto se
viam no espelho colocado em uma das paredes do salão.
Roberto ditava o ritmo das ações, mas não participava
delas. Enquanto os mais inexperientes aprendiam os movimentos básicos do
esporte, o professor e também pastor da Renascer praticava jiu jitsu
com Erick "Japonês", um dos dois atletas de mais destaque da academia e o
primeiro a se firmar como profissional depois da inauguração da mesma
há quase quatro anos.
"Eu treino na Reborn tem quatro anos, sou um dos
pioneiros. Vim treinar através de um amigo. O primeiro dia que eu
treinei aqui eu não saí mais e é a equipe que eu represento. Aqui que eu
me batizei também", disse o lutador, que continuou ao explicar que o
que o atraiu para a equipe, se foi o esporte ou a igreja: "foi a
academia. Eu vinha só por causa da luta mesmo, para se distrair".
O contato próximo com a religião, no entanto, ensinou
Erick a ter autoconfiança, qualidade que o ajudou dentro do octógono.
"Aprendi que eu tenho que ter fé, sem ter fé você não vai a lugar
nenhum. Por exemplo, o Zé 'Reborn' treina bem menos tempo que eu e ele
tem garra, tem deus no coração. Eu não entendia isso, mas hoje eu
compreendo que a fé é tudo. Ele tinha bem mais fé do que eu. Ele
acreditava nele. Eu não, sentia medo. Ele vai para cima e está onde está
hoje. Acabei me espelhando nele para chegar em algum lugar", contou,
citando o maior talento da academia.
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