A madrugada desta sexta-feira foi de terror para
moradores da favela do Mandela, no Complexo de Manguinhos, zona norte do
Rio. Uma mulher, que preferiu não se identificar, acompanhou de perto o
ataque à Unidade de Polícia Pacificadora de Manguinhos e chegou a
ajudar duas policiais militares que acabaram encurraladas depois que os
contêineres em que está instalada a sede da polícia na região foram
incendiados.
Ela conta que estava na casa da mãe, em frente à UPP, no
fim da tarde de ontem, quando um grupo de cerca de 50 pessoas passou
correndo e atirando pedras e coquetéis molotovs contra a UPP e mandando
que os moradores entrassem em casa. “Quebraram tudo, jogaram pedra,
colocaram fogo. Foram para cima do contêiner, os policiais ficaram
tentando segurar a porta, até que não conseguiram mais e o pessoal
invadiu e colocou fogo”, lembra. “Parecia um filme de ação.”
Da casa da mãe ela viu quando os contêineres começaram a
pegar fogo e a polícia deixou o local. Com medo, duas PMs que estavam
dentro da unidade fugiram para baixo da escada da casa da mãe da
moradora. “Elas começaram a chorar dizendo que iam morrer. Tentamos
ajudar, acalmar elas”, diz.
Depois, toda a comunidade ficou sem luz. Por conta do
calor, a mulher conta que ela e vários vizinhos optaram por dormir em
frente às casas. “Colocamos um tapete e um colchão no chão, me agarrei
na minha filha de 7 anos e fiquei tentando dormir. Os outros vizinhos
também foram para a rua, dentro de casa estava um forno. Os policiais
ficavam passando, os helicópteros sobrevoando. Parecia uma cena de
filme. Só meu marido não dormiu. Ficou sentado em uma cadeira cuidando
da gente e olhando o que acontecia na rua”, diz.
Os moradores acusam a polícia de ter atirado contra os
transformadores. Hoje à tarde, parte da comunidade permanecia sem luz, e
as aulas nas escolas da região foram suspensas, deixando cerca de 4 mil
alunos em casa.
O conflito começou por volta das 18h de quinta-feira,
quando o comandante da UPP Manguinhos, na zona norte da capital
fluminense, capitão Gabriel Toledo, foi ferido na perna direita durante
uma manifestação contra a desocupação de um prédio ao lado da
Distribuidora de Suprimentos Disup, para obras do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), na avenida Leopoldo Bulhões.
Durante o protesto, um policial foi atingido por uma
pedra na cabeça e carros da polícia também foram atacados. A via foi
interditada pelos moradores com a queima de pneus e pedaços de madeira.
Depois disso, criminosos se infiltraram no protesto e iniciaram o
tiroteio que teria atingido o comandante. Os criminosos atearam fogo em
um contêiner de uma base avançada da UPP Manguinhos, na comunidade da
Mandela.
Toledo foi baleado na perna e levado para o Hospital
Geral de Bonsucesso (HGB) e depois transferido para o Hospital Central
da Polícia Militar (HCPM), onde permanece em observação. Já o policial
ferido na cabeça foi levado para o Hospital Getúlio Vargas (HGV), na
Penha e também está em situação estável.
Após um pedido do governador Sérgio Cabral, a presidente
Dilma Rousseff determinou nesta sexta-feira o envio de tropas federais
para o Rio de Janeiro. As ações contra o crime no Estado terão ajuda do
governo federal já neste fim de semana.
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