Os irmãos estavam passando pelo
bairro de Ondina em uma moto quando, segundo testemunhas, teriam
discutido com a médica Kátia Vargas Leal Pereira. Dirigindo um Kia
Sorento, ela foi acusada de ter perseguido os irmãos, que foram
projetados contra um poste e morreram no local. Para a mãe, bem mais
magra que há um ano, o que mudou nestes 12 meses foram a dimensão e a
forma como encara a situação.
“Agora que eu percebo o tamanho da
crueldade, antes eu ficava atordoada. Meus filhos, dois jovens,
estudiosos, corretos, foram partidos em vários pedaços em um poste por
causa de alguém que resolveu dar um piti”, afirma.
Marinúbia chora, mas conta com o apoio da família
que evita deixá-la sozinha e busca formas de afastá-la das lembranças.
Ontem, a mãe dela veio de Petrolina (PE) para dar apoio e aproveitar
para comemorar o aniversário de 71 anos. Dona Marinalva Gomes de
Alcântara declara sofrer duplamente por ver a tristeza da filha. “Eu não
posso chorar, preciso ser forte para ficar com ela”, conta.
Elas
ressaltam que toda essa dor que sentem é do tipo que só as mulheres
que já perderam um filho conseguem entender. “Qual é a utilidade de uma
mãe que não tem filho? Uma mãe que não tem um filho não serve para nada.
Minha vida era meus filhos e hoje se resume em trabalhar, para me
manter, e lutar pela justiça”, lamenta Marinúbia.
Apesar do apoio que tem nas ruas, a enfermeira
relata que também sofre ataques anônimos. Ela conta que recebe mensagens
de texto no celular que a insultam, acusando-a de se aproveitar da
exposição. Também recebe mensagens que pedem perdão, mas isso é algo
que ela diz que “compete a Deus”.
“Ela
destruiu a família dela, eu lamento pela família e pelos filhos dela,
mas não tenho condições emocionais de lamentar por ela. Que ela seja
forte para enfrentar a Justiça. Eu só perdoo Kátia Vargas no dia que o
júri popular disser que ela é inocente ”, adianta.
Mãe diz que perdoa acusada se ‘júri popular
disser que ela é inocente’. Foto: Arisson Marinho |
JULGAMENTO
A família dos jovens ainda aguarda o júri popular que irá julgar a médica Kátia Vargas Leal Pereira, denunciada por ser responsável pelo acidente.
A família dos jovens ainda aguarda o júri popular que irá julgar a médica Kátia Vargas Leal Pereira, denunciada por ser responsável pelo acidente.
“A família não está parada. Eu procuro o Ministério
Público, eu vou ao Fórum, estamos em constante contato com o advogado. A
coisa está andando. Só vou sossegar quando essa história tiver um
desfecho”, afirma Marinúbia, que costuma repetir a ansiedade que tem em
ver a oftalmologista condenada.
O
processo está parado, aguardando para que seja enviado novamente à 1ª
Vara Criminal do Tribunal de Justiça. Só aí a data do júri será
definida, conforme determinado pela justiça em abril deste ano. O
promotor Davi Gallo diz que pretende ingressar com uma petição para que o
processo volte à Vara e seja julgado. “Eu vou fazer uma petição para
pedir para o processo descer. O processo está parado na mão do relator
no tribunal. Não tem razão nenhuma para que esse processo fique parado”.
A
defesa da médica ingressou com dois recursos no Superior Tribunal de
Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF), mas as ações ainda
não foram julgadas. Apesar disso, o promotor afirma que isso não impede
que o júri aconteça. “Eles recorreram da pronúncia, o tribunal manteve
que ela deve ir a júri popular. Os recursos são julgados
independentemente do processo, por isso vou pedir a devolução dos autos
para a vara”, explica Gallo.
Na opinião do promotor, os recursos são a forma de a
defesa da médica adiar o julgamento. “A defesa vai fazer de tudo para
que não seja julgado. O mérito já foi decidido e ela deve ir a júri
popular”, diz. Procurados desde o início da semana, os advogados da
médica, que têm escritório em São Paulo, não atenderam aos pedidos da
reportagem para comentar sobre o assunto.
Desde
quinta-feira a médica recebeu liberação da Justiça para viajar a São
Paulo. A decisão foi expedida pela juíza Gelzi Maria Almeida Souza no
dia 2 de outubro. “A ida dela a São Paulo é normal. É necessário para
contato com os advogados”, explica Daniel Keller. Com a decisão, Kátia
tem até terça-feira para retornar a Salvador.
Motocicleta em que irmãos estavam ficou completamente destruída.
Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO |
Os
recursos impetrados pela defesa não têm prazo determinado para serem
julgados e, segundo Keller, só resta aguardar. “Não existe prazo para
que sejam julgados e agora nós ficamos aguardando o Judiciário. A
Justiça demora porque não tem estrutura para atender à demanda”,
explica.
Além do processo criminal, a família dos irmãos
entrou com uma ação por danos morais com pedido de indenização de R$ 1
milhão por cada uma das vítimas. O advogado Iran Furtado, responsável
pela ação, diz que também aguarda que a Justiça acelere o julgamento da
ação.
Furtado
explica que foi aberto mais um prazo para que fossem apresentadas novas
provas que sustentem o pedido de indenização. “Houve um despacho agora
pedindo provas, mas informei ao juiz que não há provas, porque já foi
tudo provado”, detalha.
Segundo ele, todas as provas apontam que a conduta
dela provocou a morte dos irmãos. “Nessa ação se discute a ação e o
valor, não se discute o ‘animus’ dela quando praticou o homicídio,
porque isso já está provado. Nem ela nega que era o carro dela e que ela
estava dirigindo quando aconteceu a morte”, conclui.
Relembre o caso
*Morte 11/10/13
Os irmãos Emanuel e Emanuelle morrem após colidirem em poste. Kátia
Vargas, acusada de provocar o acidente, é levada para o Hospital
Aliança.
*Prisão 17/10/13
Após uma perícia afirmar que a médica Kátia Vargas está bem de saúde,
ela sai do hospital diretamente para o presídio feminino.
*Audiência 29/11/13 Médica é liberada de audiência a pedido de seus advogados. Catorze testemunhas de defesa e de acusação prestam depoimento.
*Liberdade 16/12/13
Depois de 58 dias de detenção, a acusada Kátia Vargas deixa o prisídio
feminino, faz exames em um hospital particular e vai para casa de
familiares.
*Júri Popular 22/04/14
Justiça nega pedido de recurso da defesa da médica Kátia Vargas que
pedia a revogação do júri popular. Ela ainda aguarda julgamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário