terça-feira, 14 de julho de 2015

Casal transexual dá à luz menino em Porto Alegre e planeja casamento

Há menos de uma semana, a vida de Helena Freitas, de 26 anos, e de Anderson Cunha, de 21, mudou completamente, como a de todos os pais de primeira viagem. O pequeno Gregório nascia, na manhã de terça-feira, e, com seus 3,6kg e 50cm, transformava a vida do casal de Porto Alegre que precisou enfrentar, além dos desafios de uma gravidez normal, o preconceito. Helena e Anderson são transexuais e, na casa do Gregório, quem engravidou foi o papai.

Juntos há mais de dois anos, eles sempre pensaram em ter filhos, mas não planejavam que acontecesse tão cedo. A notícia da gravidez de Anderson mudou a rotina do casal e selou a união que começou em um baile funk e deve chegar até o altar em breve. Os dois têm planos de casamento, mas antes pretendem organizar a vida a partir da chegada de Gregório.

— A gente se conheceu em um baile funk. Eu estava no banheiro e vi o Anderson no banheiro feminino e comentei: “Gente, tem um homem no banheiro feminino”. Ele, que na época ainda se apresentava como Andressa, falou que era menina. Conversamos, ele me perguntou se eu aceitava um drink e ficamos muito amigos. Depois, trocamos telefone, Facebook, e nos conhecemos melhor. Sempre reparei que ele me tratava de um jeito diferente de que tratava outras meninas. Sentia que tinha a intenção de ter alguma coisa comigo. 

Estamos juntos, felizes, há dois anos. Oficialmente ainda não somos casados, mas pretendemos nos casar. Em fevereiro, ele me pediu oficialmente e eu aceitei, mas ainda não temos data. Primeiro temos que nos estruturar e a atenção agora é toda pro bebê — conta Helena.
Casal está junto há mais de dois anos e tem planos de casamento
Casal está junto há mais de dois anos e tem planos de casamento Foto: Reprodução / Facebook
A notícia da gravidez não trouxe só reações positivas. Assim que soube da gestação, Anderson foi demitido da lanchonete em que trabalhava. Hoje, trabalha como gari na capital gaúcha. Na companhia, o pai de Gregório conseguiu obter licença maternidade para cuidar do bebê. Helena, que trabalha como atendente de telemarketing, conseguiu uma semana de licença paternidade. No trabalho, ela conta que o apoio foi total.
— Tive o apoio de todos no meu trabalho quando falei que ia ter um bebê. Lá todos me respeitam muito, uso só o meu nome social e todos me tratam muito bem. Com a notícia da gravidez, recebi o apoio dos meus colegas, das minhas supervisoras, da minha chefe. Todas deram presente, deixaram fazer o chá de fraldas no salão do trabalho. Até queriam me dar uma licença maternidade, mas não foi possível — diz a mãe do Gregório.
Gregório nasceu com mais de 3kg e 50cm
Gregório nasceu com mais de 3kg e 50cm Foto: Reprodução / Facebook
Porém, nem sempre o casal conviveu com apoio dos mais próximos. Helena conta que, no início, amigos e parentes estranharam a relação entre uma mulher lésbica - na época - e uma mulher trans. Dois anos depois, eles mostram que os palpites eram errados e aproveitam a nova família formada.
— Sofremos muito preconceito, mesmo. Desde o início. Amigos diziam que era ela lésbica, que gostava de mulher e não de travesti. As minhas amigas também não entendiam porque eu estava me relacionando com uma lésbica. Nunca respondemos. Eu sempre fui de ficar mais na minha. Um casal trans pode ser feliz e ter uma vida normal. Vi vários comentários falando que é só um homem e uma mulher que fizeram um filho. Não, é bem diferente. Meu objetivo é outro. Meu objetivo foi virar mulher, me tornar mulher e ser tratada como mulher. Sou mulher a todo momento, no trabalho, no ônibus, no mercado. É bem diferente dizer que eu sou um homem que teve um filho.
Na família do pequeno Gregório, quem engravidou foi o papai
Na família do pequeno Gregório, quem engravidou foi o papai Foto: Reprodução / Facebook
Estudante de Letras, Helena teve que interromper a faculdade para dar atenção à gravidez de Anderson e, agora, a Gregório. Os outros sonhos podem esperar. Como todo casal de pais babões, os dois agora só querem saber de cuidar do bebê. E desejam a história deles sirva de inspiração para outros casais que sofrem com dificuldades e preconceito.
— Eu quero que sirva de exemplo, que todo casal que sofre o preconceito que a gente sofreu se realize, seja feliz. Foi a melhor coisa que me aconteceu. É muito lindo, ele é todo lindo. Eu tinha diversos objetivos: fazer cirurgia de mudança de sexo, ficar mais bonita, terminar meus estudos, mas interrompi por um bom motivo. E interromperia todas as vezes que fosse necessário. Não penso em mais nada. Acordo pra ele, durmo pra ele, limpo a casa pra ele. É a melhor coisa do mundo — diz, orgulhosa, a mãe.
Helena e Anderson se conheceram em uma festa e estão juntos desde então
Helena e Anderson se conheceram em uma festa e estão juntos desde então Foto: Reprodução / Facebook
Apesar do orgulho, Helena não conseguiu registrar seu filho com seu nome social. Ela conta que, apesar de ter apresentado seu documento de identidade com o nome com o qual é conhecida, o funcionário do cartório não autorizou o registro como ela queria.
— Eu apresentei meu documento, com todas as minhas informações. Tenho o direito de registrar meu filho com meu nome social, mas por ignorância o funcionário não soube lidar com isso. Fiz o processo com o nome de registro, porque não queria deixar meu filho sem ser registrado por muito tempo. Depois posso ver de brigar na Justiça, mas ainda não decidi o que vou fazer em relação à isso.
Uma certeza ela tem: Gregório vai crescer em um mundo onde as pessoas são muito mais do que o que um documento diz sobre elas. O maior exemplo está em casa.
Orgulhosa, mamãe Helena posa com Gregório no colo
Orgulhosa, mamãe Helena posa com Gregório no colo Foto: Reprodução / Facebook
Anderson e o filho, Gregório
Anderson e o filho, Gregório Foto: Reprodução / Facebook
O pequeno Gregório, filho de Helena e Anderson
O pequeno Gregório, filho de Helena e Anderson Foto: Reprodução / Facebook
Helena teve chá de fraldas para Gregório na empresa: apoio dos colegas foi fundamental
Helena teve chá de fraldas para Gregório na empresa: apoio dos colegas foi fundamental Foto: Reprodução / Facebook


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