A morte da secretária Daniela Nogueira Oliveira, 25 anos, baleada no
rosto numa tentativa de assalto no Campo Limpo, zona sul de São Paulo,
na semana passada escancarou para todo o País o que a falta de
integração de dados criminais pode desencadear. Um erro do Tribunal de
Justiça paulista, no final do ano passado, permitiu que o autor do
disparo Alex Alcântara de Arruda continuasse livre, mesmo foragido. Dias
depois de sua ultima detenção ele participou do assalto que acabou com o
assassinato de Daniela, que estava grávida de nove meses. A falha de
comunicação entre as varas, algo que poderia ser evitado com a
informatização da Justiça, permitiu que o bandido permanecesse nas ruas.
Apesar da tragédia, a solução para esse problema parece ainda longe de
ser resolvido. O investimento para o setor previsto para este ano é
26,26% menor na comparação com 2012, segundo o orçamento da corte.
A falta de um sistema integrado de informação entre a Justiça e os
órgãos de segurança pública tem feito com que o trabalho da polícia
seja, por muitas vezes, inócuo, já que os agentes prendem suspeitos nas
ruas, mas não conseguem ter acesso a informações sobre o passado
criminal ou até sobre mandados de prisão.
Arruda tinha sido condenado em março de 2011 a um ano e nove meses, em
regime semiaberto, por uma tentativa de roubo. No dia 10 de novembro ele
fugiu do semiaberto. Quatorze dias depois seu processo foi incluído no
mutirão carcerário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e sua pena foi
convertida para regime aberto, sem que a informação sobre sua fuga
tivesse sido juntada ao processo, o que só aconteceu em junho de 2012.
Quando a polícia o abordou em novembro de 2012, constava apenas que ele
estava em liberdade, e os policiais tiveram que liberá-lo.
Se o sistema fosse informatizado, problemas como esse não ocorreriam,
já que as informações poderiam ser atualizadas em tempo real. Além
disso, os policiais reclamam da dificuldade de checar e obter
informações sobre suspeitos, uma vez que não existe integração. "O
sistema é tão falho na transmissão das informações a respeito da conduta
e da situação processual e penal, como sentenciado... ele foi abordado
em duas circunstâncias no final do ano pela polícia, e liberado, porque
não tinha no sistema a informações sobre ele", critica o deputado
estadual paulista Major Olímpio (PDT), que atuou como oficial da Polícia
Militar paulista por quase 30 anos.
Falta de integração já ajudou outros criminosos
Esse não foi o único caso no qual uma decisão judicial teria devolvido
para as ruas um criminoso. Em maio de 2012, a Justiça autorizou a saída,
para o Dia das Mães, do traficante conhecido como Piauí, ele seria o
mandante de assassinatos de policiais na zona sul de São Paulo. Ele era
acusado de mais de 40 crimes, que não tinham trânsito julgado e
apresentou bom comportamento na prisão. Ele recapturado em agosto, em
Santa Catarina, com a ajuda de escutas feitas pela Polícia Federal.
A falta de integração também permitiu que o traficante mexicano Carlos
Ruiz Santamaria, o El Negro, liga ao megatraficante Juan Carlos Abadia,
ficasse preso por nove meses em São Paulo com uma identidade falsa. Sua
verdadeira identidade foi descoberta porque os policiais desconfiaram
que ele não era o mineiro Manoel Oliveira Ortiz, como constava em seus
documentos, já que não falava português.
"Nós estamos em um País, ainda, onde você consegue tirar três RGs, um
no Nordeste, outro no Sul e outro em São Paulo. Nós não temos um
cadastro nacional de pessoas. Se você falar em um cadastro nacional de
presos, embora você tenha o Infoseg, que é absolutamente falho, quanto
indivíduos a gente acaba prendendo", diz o deputado.
O Infoseg ao qual se refere o parlamentar é um sistema integrado que
reúne dados de segurança pública, Justiça e fiscalização, inquéritos,
processos, de armas de fogo, veículos, condutores e de mandados de
prisão, que são alimentadas por cada Estado, no entanto, o acesso é
restrito a poucos agentes de segurança, já que seu uso é mais voltado
para o trabalho de inteligência.

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