terça-feira, 27 de novembro de 2012

Para Yuka, expulsão do Rappa foi crime, futilidade e pequenez humana

"Eu não sei muito bem o que aconteceu. Só sei que sou baterista, tomei tiros, tô paraplégico e minha vida acabou". Foi assim que Marcelo Yuka, ex-baterista do grupo O Rappa, definiu como estava se sentindo em novembro de 2000, após uma tentativa de assalto que o deixou em uma cadeira de rodas. E é isso que ele mostra que não superou ao entrar no refeitório do Hotel Marabá, em São Paulo, para uma tarde de entrevistas. Após um atraso para descer do apartamento onde estava hospedado porque o enfermeiro que o acompanha tinha sumido, o músico se apresentou aos jornalistas para falar do lançamento do documentário sobre sua vida, Marcelo Yuka no Caminho das Setas, que estreia nos cinemas nacionais nesta sexta-feira (30).

 
Um pouco descabelado, o que que ele garante não ter solução, tenta se mostrar uma figura próxima à de qualquer um ali sentado. Não quer ser o centro, não quer ser herói e não quer ser vítima. Com esse objetivo, faz pausas, respira e escolhe as palavras, não para defender seu ponto de vista, mas para mostrar que aquilo é a realidade. Mas assume que não superou a tragédia e que só o fará no dia em que passar dessa para uma melhor.
 
Nos sonhos, ainda anda. Nos ideais, diz que só olha para o futuro e que discutir o passado é como discutir um namoro ou um casamento que já terminou. Dá voltas, reafirma tudo isso e ao dizer que pouco falou sobre um dos episódios mais marcantes de sua vida no mundo midiático - a expulsão do Rappa -, solta o verbo: "eles me mandaram embora em um momento em que eu estava com sequelas. Se fosse pelo direito trabalhista, isso já seria um crime. Foi crime. Se eu tivesse pensado nisso naquele momento... Seria um absurdo. Fora isso, as questões que eles alegam são questões fúteis, de uma pequenez humana quase que sem precedentes na história da cultura brasileira".
 
Mas se não é para ser herói, nem vítima; se não é para levantar bandeira e nem atacar nada, e se o estopim para a gravação foi resolvido ainda nos primeiros meses de filmagem - a pesquisa por células-tronco e como isso melhoraria as condições de saúde no País -, para quê e por quê o filme? "Poderia ser sobre qualquer um que seria interessante, toda pessoa tem alguma poesia", ele diz.

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