sábado, 28 de março de 2015

Livro sobre swing mostra que há ‘regras’ para quem quer participar de troca de casais

A libertinagem sexual tem seus limites. A ideia de que o swing é uma prática promíscua, sem ordem e sem regras é comum entre os que não são familiarizados com o universo, mas, no livro “Swing — Eu, tu... eles”, a jornalista e antropóloga mineira Maria Silvério joga luz sobre a prática ainda muito marginalizada e restrita a poucos clubes. Após passar dois anos e meio mergulhada no assunto para sua tese de mestrado no Instituto Universitário de Lisboa — ela visitou 14 festas e clubes de swing no Rio e em Lisboa e fez entrevistas in loco com casais adeptos —, a pesquisadora descobriu que, ao contrário do que se pensa, o swing tem muitas regras de conduta e não se parece nem um pouco com uma orgia. E, embora pareçam extremamente liberais, os praticantes também têm lá os seus tabus e preconceitos.

Muitos casais vão diversas vezes a um clube antes de se envolver com outra dupla pela primeira vez. E eles costumam combinar, antes do ato sexual, todas as regras: vale penetração e dedo no ânus ou só sexo oral e masturbação? Os mais conservadores preferem realizar as preliminares com a mulher ou o marido do outro, mas, na hora da penetração, a troca é desfeita para que o ápice da relação aconteça apenas com seu parceiro. E a regra de ouro do swing é: “não quer dizer não”.

— Se um casal aborda outro e a resposta é negativa, cada par segue para o seu lado, sem pressionar. É um ambiente de muito respeito. Todos ali estão acompanhados das pessoas que amam, então não querem que seus companheiros sejam desrespeitados — comenta a autora de 29 anos, que se graduou na PUC de Belo Horizonte antes de se mudar para Lisboa, onde mora hoje.

Apesar de serem locais majoritariamente frequentados por casais, algumas casas de swing aceitam solteiros (chamados “singles”). Geralmente, há um número limite de pessoas sozinhas por noite, para que não haja um desequilíbrio nas relações, já que a maioria arrasadora dos solteiros é de homens. Muitos casais, no entanto, os veem com desconfiança. A comunidade de swingers é arredia e fechada, principalmente em Lisboa, e a autora narra todos os passos de aproximação dos casais no livro-reportagem, fruto de sua pesquisa de mestrado.

— Existe muito medo da exposição, sobretudo porque swing é predominante praticado por pessoas de nível social e de instrução elevados e com mais de 40 anos. São engenheiros, médicos, advogados... Há o medo da discriminação da família, dos amigos e dos colegas de trabalho — explica a pesquisadora, que busca desconstruir o preconceito contra os praticantes. — Os swingers são pessoas que estão juntas há muito tempo, amam seus parceiros, mas sentem falta de algo no âmbito sexual, não porque a vida sexual deles seja ruim, mas simplesmente porque gostam de experimentar. E eles preferem fazer isso com o parceiro, não escondido — conceitua Maria.

Agora doutoranda em antropologia, Maria considera a área da sexualidade uma das mais controladas pela sociedade. Até altos cargos políticos são postos em risco quando há um escândalo sexual.

O tema é pouco explorado pela academia. Após uma grande pesquisa bibliográfica, Maria percebeu que, em Portugal, na área das ciências sociais, não existiam trabalhos sobre o assunto. No Brasil, havia poucos. Um deles era uma pesquisa da antropóloga Olivia von der Weid publicada pela UFRJ que estimou a existência de 55 casas de swing no Brasil, entre 2003 e 2004. Dessas, 47 estavam concentradas nas regiões sul e sudeste, sendo 31 apenas nos estados do Rio e de São Paulo. Algumas das localizações em grandes centros urbanos eram fáceis de encontrar com uma pesquisa na internet, outras, ficavam escondidas.

Apesar do ambiente teoricamente liberal, o swingers também têm seus tabus. O maior deles é a bissexualidade masculina. Enquanto muitos homens incentivam suas mulheres a trocarem carícias com outras, o sexo homossexual masculino é totalmente rejeitado.

— Quase todos os homens contam que têm amigos que se envolvem com outros homens, mas é sempre o amigo de um amigo, nunca eles mesmos. Existe uma norma velada de que um homem não pode se envolver com outro, pelo menos não na frente das outras pessoas — relata Maria.

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