sexta-feira, 16 de novembro de 2012

"Isso foi o que sobrou do meu neto", diz avô de bebê morto no ABC

"Como que eu vou colocar 2 (anos) aqui? Não tem mais como colocar 2, acabou". Assim expressava a dor e a indignação por enterrar seu neto na tarde desta sexta, em Diadema, região do ABC Paulista, o motorista de van escolar José Patrocínio da Silva, 53 anos. Ele segurava o cartaz com o convite para o aniversário de um ano do pequeno Pedro Henrique. A data da festa: 29 de março de 2012. "Sobrou só isso dele... Vagabundo! Matou meu neto", repetia enquanto guardava o banner.

O cartaz acompanhou o corpo durante o trajeto entre o velório e o enterro. A imagem do menino no seu primeiro e único aniversário foi pendurada na van que carregou o caixão branco de menos de meio metro de comprimento até o jazigo no cemitério Vale da Paz. Pedrinho morreu ao ser atingido por um tiro no pescoço por volta das 22h de quinta-feira em São Bernardo do Campo, região do Grande ABC Paulista, com 1 ano e sete meses de idade.

Pai da cabeleireira Thamyres Silva Manga, 22 anos, seu José era uma das poucas pessoas em condições de falar enquanto o corpo era velado com cantos e gritos de louvor religioso de uma pequena multidão. Disse que o menino era "muito alegre e contente". "Falava tudo, já". Seu José manifestava diante de câmeras de TV a descrença nas leis e nas autoridades. "Gostaria que alguém agisse, mas nada vai acontecer. Era melhor tirar a polícia e dar uma arma para todo mundo".

O menino morreu nos braços da mãe, que estava no banco do carona de um Celta preto que trafegava na estrada Galvão Bueno em direção a um supermercado. Um Palio Prata dava sinal de luz logo atrás. No volante, o padrasto de Pedrinho, Jurandy Luis da Silva, 20 anos, não imaginava que tinha na traseira criminosos em fuga após uma tentativa de assassinato de um rapaz de 17 anos recém saído da Fundação Casa. Devagar, venceu a lombada da rua para não raspar a parte de baixo do veículo. O Palio prata ultrapassou na contramão e três tiros vararam o vidro e a lataria carro. Um deles pôs fim à vida de Pedrinho.
Thamyres caminhou as centenas de metros até o local onde o filho seria enterrado amparada por familiares.

Debruçou-se sobre o caixão. Deu três toques na madeira. "A mamãe te ama, viu filho?", disse. Enquanto o caixão era acomodado com cordas na terra por coveiros, ela repetia, aos gritos, que não queria mais viver sem o filho. "Era a única coisa que eu tinha".

As investigações da Polícia Civil sobre o caso ainda não são conclusivas sobre a relação da morte com a onda de ataques que já matou mais de 270 pessoas desde o início de outubro na capital e região metropolitana de São Paulo. Mas a tia do menino cobrou providências. "Hoje foi meu sobrinho, amanhã pode ser o seu", disse Elivânia da Silva, enxugando lágrimas.

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