Diminuição nos níveis de oxigênio, desligamento de
aparelhos e “abandono” de pacientes que sofriam parada cardíaca. De
acordo com ex-funcionários do Hospital Evangélico de Curitiba, essas
eram as práticas mais comuns adotadas pela chefe da UTI Geral do hospital, Virgínia Soares de Souza, para antecipar a morte de pacientes.
Segundo as denúncias, essa prática era feita com pacientes do Sistema
Único de Saúde (SUS), por conta das baixas diárias recebidas pela equipe
médica por internamento.
“Quase todo dia havia uma parada cardíaca de paciente do
SUS. Eles utilizavam a sigla SPP, que significa ‘se parar, parou’.
Então era assim: SUS, deu uma parada cardíaca, ela gritava: ‘SPP’. As
enfermeiras já saíam fora, deixavam morrer, não faziam reanimação,
nada”, disse a ex-fisioterapeuta do hospital Eliane Campêlo França à
rádio BandNews de Curitiba, logo após prestar depoimento ao
Núcleo de Repressão a Crimes conta a Saúde (Nucrisa). “Agora, se era
paciente de convênio ou particular, daí não. Vamos lá reanimar porque dá
dinheiro”, reforçou.
Um ex-enfermeiro do hospital, que não quis se
identificar, informou ao Nucrisa que, para os pacientes do SUS, a médica
deixava o respirador mecânico com quantidade mínima de oxigênio, o que
era suficiente para antecipar a morte. “Eu também já vi ela desligar
vários respiradores”, disse. “Já quando era paciente particular, a
prática era o contrário, ela fazia de tudo para prorrogar a vida de
forma artificial, para aumentar o número de diárias”, informou. O mesmo
ex-funcionário declarou que outros três médicos adotavam o mesmo
método.
Alegando o segredo de Justiça do inquérito, a Polícia
Civil não confirma as denúncias, mas o delegado-geral da Polícia Civil
do Paraná, Marcos Michelotto já havia informado, na última quarta-feira,
que outros médicos estão sendo investigados e que a polícia já concluiu
que a chefe da UTI não agia sozinha. De acordo com Michelotto, os
crimes pelos quais a médica está sendo investigada não podem ser classificados como eutanásia: as mortes não ocorreram com o consentimento das vítimas ou das famílias.
O advogado de defesa da médica, Elias Mattar Assad,
sustenta que não há provas contra sua cliente e que todas essas
denúncias são motivadas por conflitos de relacionamento e problemas
internos entre colegas de trabalho. Em 2011, a médica chegou a ser
afastada por 30 dias por problemas de relacionamento com seus
subordinados na UTI.
A médica era responsável pelos 25 leitos da UTI destinada a pacientes
politraumáticos, vítimas graves de acidentes, que chegavam ao hospital
através do Siate, do Corpo de Bombeiros. De acordo com o diretor clínico
do Hospital Evangélico, Gilberto Pascolat, que está, interinamente,
responsável pela UTI, no cumprimento dos mandados de busca e apreensão, a
Polícia Civil recolheu prontuários de sete pacientes recentes da UTI, o
que indica que a investigação inicial é a respeito de sete mortes com
suspeita de intervenção da médica Virgínia Soares de Souza.
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