Ao custo de R$ 570 milhões só para a Arena Pantanal e um
forte trabalho de bastidores do então governador Blairo Maggi, o Mato
Grosso conseguiu ser uma das sedes da Copa do Mundo. O estádio com
padrão Fifa tem 95% das obras concluídas, receberá quatro jogos do
Mundial, mas dá para se dizer que o futebol local ainda não saiu dos
primeiros tijolos.
Com dois desistentes, o Estadual do Mato Grosso tem nove
clubes participantes e média de 640 torcedores por jogo, segundo
levantamento do site especializado Sr Goool. Para se ter uma
noção do pouco apelo, as 14 partidas já disputadas totalizam 14.204
pagantes, insuficiente para preencher um terço dos 42.968 lugares da
Arena Pantanal.
Experiência administrativa para aproveitar o boom
da Copa, por sinal, não falta a Carlos Orione. À frente da Federação
Mato-Grossense de Futebol desde 1979, Orione é o presidente mais longevo
entre todos de sua categoria no Brasil, mas não tem satisfeito os
clubes afiliados - seis deles pediram mais transparência. De
quebra, o Ministério Público do Estado do Mato Grosso intimou a
Federação a apresentar contratos após receber denúncia de possíveis
irregularidades.
Enquanto a Federação não consegue seduzir a população
local para ir ao estádio, alguns clubes têm conseguido ótimos
resultados. Graças, principalmente, às próprias iniciativas. O
Luverdense, por exemplo, meses depois de endurecer a vida do Corinthians
na Copa do Brasil, recolocou o Mato Grosso na Série B do Campeonato
Brasileiro pela primeira vez após 18 anos. O Cuiabá lutou contra o
rebaixamento, mas jogará também a Série C em 2014. Ainda assim, nada que
possa sugerir um reflexo da Copa no futebol sem tradição do estado.
Campeonato Mato-Grossense tem fórmula bizarra e clubes desistentes
A fórmula de disputa do Mato-Grossense 2014 merece
atenção. Um grupo tem cinco equipes, o outro tem outras quatro. Elas se
enfrentam dentro da própria chave, em turno e returno, para definir oito
classificados. É isso mesmo: quatro equipes se enfrentam por seis
rodadas para que as mesmas quatro se classifiquem até o mata-mata. Assim
fica difícil atrair público.
Arena Pantanal deve ser utilizada durante Série B e Copa do Brasil |
Entre os estádios com atrasos para a Copa do
Mundo que começa em menos de quatro meses, a Arena Pantanal custa cerca
de R$ 570 milhões, além do inicialmente previsto de R$ 454 milhões.
À
parte a Copa do Mundo, seu uso além de duelos regionais deve ser
restrito à Copa do Brasil (Mixto-MT x Santos), e à Série B, com o
Luverdense. A distância entre Cuiabá e Lucas do Rio Verde, porém, é de
cerca de 400 quilômetros.
No Mundial, são quatro
jogos previstos para Cuiabá, sempre na primeira fase: Chile x Austrália,
Rússia x Coreia do Sul, Nigéria x Bósnia, Japão x Colômbia.
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Vila Aurora e Sorriso, desistentes, prejudicaram o
sistema de disputa. O último não tinha presidente e sequer voluntários
para assumir o cargo deixado por Celso Kozak. Já o primeiro sofreu com
desavenças internas e também abdicou de participar. Curiosamente, o
mesmo Vila Aurora havia conseguido o direito de participar da competição
via STJD, mas abriu mão. Os casos não são novidade: em 2013, o Crac-MT
também desistiu de jogar a primeira divisão.
Futebol de base praticamente inexiste no Mato Grosso
Se nos profissionais as condições são ruins, quem dirá a
base mato-grossense. Até as equipes consideradas mais fortes na
capital, como o Mixto-MT, mais tradicional, e o Cuiabá, um emergente,
sequer têm trabalhos regulares com os jovens. Os times são montados
esporadicamente para os Estaduais Sub-19 e Sub-17.
A exemplo do que ocorre nos profissionais com o
Luverdense, as divisões de base do estado mostram progresso graças a
ações isoladas. Referência no trabalho de formação, o Rondonópolis
Esporte Clube venceu os torneios Sub-17 e Sub-19 do ano passado e vem de
boas campanhas na Copa São Paulo já há três anos. Assim, projetou
garotos do Estado para as bases de clubes como Fluminense, Palmeiras,
Cruzeiro e Internacional, em que atua o garoto Valdivia.
Luverdense: nem R$ 1 para jogar a Série C, mas entre os 40 melhores do País
Em entrevista recente ao Blog Futebol Clube, no Terra, Helmute Lawische contou as dificuldades em gerir o Luverdense,
clube mais sólido do futebol profissional do Mato Grosso. Segundo o
presidente, foram sete edições consecutivas sem receber R$ 1 da CBF. O
progresso do último ano foi o custeio das passagens aéreas, graças a uma
parceria firmada pela entidade.
"O Mato Grosso é uma terra de oportunidades, agora uma
terra de oportunidades para quem sabe fazer futebol. Eu conheço o Brasil
inteiro, muitos lugares fora do Brasil, e aqui é espetacular", contou
Helmute. "Hoje o futebol tem uma cultura muito errada. Tem muito
dinheiro para poucos clubes e pouco dinheiro para muitos clubes",
reclamou.
Sem apoio da Federação, sem apoio da CBF e sem uma
competição local forte no primeiro semestre, o Luverdense vai à Série B
sem saber se poderá levar os mato-grossenses à elite do Brasil. Com
estádio de padrão de Copa do Mundo e um futebol pobre de modo geral, o
Mato Grosso só verá esporte de alto nível durante alguns poucos dias.
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