As células-tronco serão injetadas experimentalmente em seres humanos pela primeira vez na história. A Administração de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) acaba de autorizar os testes.
O estudo será conduzido pela empresa de biotecnologia Geron, que financiou a pesquisa pioneira de Wisconsin, em 1998, e agora, após uma década de experimentos in vitro e com animais, poderá finalmente testar o potencial terapêutico de suas células no organismo humano.
Cientistas americanos vão usar as células-tronco para reconstruir a medula espinhal de pessoas paralisadas por lesões recentes na coluna. Cerca de dez pacientes paraplégicos, que sofreram o acidente causador da paralisiamenos de 15 dias antes do teste clínico, vão receber as células.
Trata-se do primeiro e único ensaio clínico com células-tronco embrionárias humanas aprovado no mundo até agora. A empresa, com sede na Califórnia, vai injetar no grupo de pacientes células nervosas progenitoras, produzidas pela diferenciação de células-tronco embrionárias humanas in vitro.
A intenção é que essas células progenitoras, uma vez na medula, se diferenciem em um tipo específico de célula do sistema nervoso central, chamada oligodendrócito, que reveste os nervos e permite a transmissão dos sinais elétricos enviados do cérebro para o restante do organismo. Em experimentos com ratos lesionados, a técnica se mostrou eficaz, devolvendo parte dos movimentos e do controle motor e sensorial.
CISTOS
O início dos testes em humanos já havia sido autorizado em janeiro de 2009, mas o aparecimento de cistos na medula de alguns dos animais fez que a FDA colocasse a autorização “emespera”, até que a empresa pudesse investigar a questão. A Geron anunciou que aperfeiçoou os protocolos de segurança relacionados à diferenciação das células, fez novos experimentos com animais e conseguiu, novamente, luz verde da FDA para seguir em frente com os ensaios clínicos em seres humanos.
“Há uma expectativa muito grande de toda a comunidade científica sobre esse projeto”, diz o médico Tarcísio Eloy Pessoa de Barros Filho, vice-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que pesquisa também o uso de células-tronco no tratamento de lesões medulares.
Ele explica que muitas lesões medulares são causadas pela deterioração dos oligodendrócitos, sem que haja necessariamente um rompimento das fibras nervosas (chamadas lesões fechadas). Os oligodendrócitos formam as bainhas de mielina, que encapam os nervos e funcionam como fita isolante sobre fio elétrico. Sem elas, os impulsos nervosos não conseguem percorrer o nervo.
As células progenitoras desenvolvidas pela Geron não têm a capacidade de formar neurônios-só oligodendrócitos. Por isso, segundo a empresa, só serão admitidos no estudo pacientes com lesões fechadas, localizadas entre as vértebras torácicas T3 e T10.
PERÍODO
A aplicação das células progenitoras deverá ser feita, obrigatoriamente, entre 7 e 14 dias após a ocorrência da lesão. “Se for uma lesão antiga, já cicatrizada, não vai funcionar”, explica a pesquisadora Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP).
O tratamento experimental de lesões recentes, segundo ela, é uma “faca de dois gumes”. Por um lado, aumenta a chance de recuperação. Por outro, dificulta a interpretação dos resultados, “pois não há como saber como o paciente teria se recuperado sem as células-tronco”.
“Seja qual for o resultado, o estudo será divisor de águas para células-tronco embrionárias”, diz Stevens Rehen, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário