Sozinhos, os números relacionados com crimes são quase sempre muito
frios. Mas não quando eles revelam um aumento de mais de mil homicídios
no período de um ano na Bahia — 781 deles no interior. Os dados,
computados pelo CORREIO a partir de balanços divulgados recentemente
pela própria Secretaria da Segurança Pública (SSP), detalham uma
escalada de homicídios no estado de 2011 para 2012.
Foram 5,7
mil assassinatos registrados pela SSP em 2012, contra 4,6 mil em 2011.
Esses dados nos colocam, em números absolutos, à frente, inclusive, de
estados como São Paulo — que com uma população de 49 milhões de
habitantes (quase três vezes a da Bahia), somou 4,8 mil mortes —, Rio de
Janeiro (4 mil mortes) e Minas Gerais (3,9 mil). Em números relativos,
a Bahia registra uma taxa de 58,2 homicídios por 100 mil habitantes,
enquanto a média nacional é de 22,7.
Em toda a Bahia, o aumento
de homicídios foi de 23%. O crescimento teve contribuição decisiva dos
municípios do interior, onde as mortes cresceram 30%. Em Salvador e
Região Metropolitana (RMS), o índice ficou em 14%.
Os dados foram
analisados com base nos boletins anuais das Coordenadorias Regionais do
Interior (Coorpins), da Polícia Civil, divulgados no site da SSP mês
passado. Nestes boletins, todavia, não estão presentes 27 municípios,
que possuem, somados, a população de 362 mil habitantes.
Paraísos
Com índice de 101 homicídios por 100 mil habitantes, o município mais
violento entre os maiores centros urbanos do interior é um destino
turístico dos mais famosos no Brasil. Em Porto Seguro, Extremo Sul do
estado, foram mortas 133 pessoas em 2012. A cidade também registrou
aumento no número de homicídios de 10% comparado a 2011. Porto Seguro
sustenta ainda o maior índice de estupros entre as maiores cidades (58
casos), além de ser a 4ª colocada em usuários de drogas.
No
entanto, a violência que antes ficava restrita a Porto Seguro se
espalhou por vizinhos igualmente turísticos. Antes tranquilas,
localidades como Alcobaça, Caravelas, Prado, Ibirapuã, Mucurí e Medeiros
Neto, onde em 2011 não se registrou sequer um homicídio, viram 56
pessoas perderem a vida de forma violenta.
Microrregião
Por
outro lado, enhum outro município do estado viu crescer tanto os
assassinatos quanto Ituberá, no Baixo Sul. De apenas um homicídio
registrado em 2011 foi para 28 em 2012. Ituberá aparece na segunda
colocação entre os maiores índices de mortes violentas, com 104
homicídios/100 mil habitantes.
A escalada de violência na cidade
mostra que subiram também os índices de tentativa de homicídio (de 4
para 12), de estupro (de 4 para 7), e de roubo e furto de veículos (de 9
para 15). A violência em Ituberá contagia toda a microrregião de
Valença, da qual faz parte. Os dez municípios da região, somados,
registraram aumento de 72% nos homicídios (de 90 para 155). Sem Ituberá,
o aumento fica em 42%.
Greve
O secretário de
Segurança Pública do Estado, Maurício Barbosa, atribuiu a disparada na
violência no ano passado à greve da Polícia Militar, que aconteceu em
fevereiro e durou 12 dias. “Desestabilizou nossa politica de segurança
por uns quatro a cinco meses. Sofremos efeitos devastadores”,
justificou. Neste período pós-greve, segundo Barbosa, os índices de
violência continuaram a aumentar porque os comandos no interior do
estado estavam desorganizados. “Foi o tempo para colocar as coisas em
ordem, o pessoal para trabalhar com vontade”, disse.
O secretário
observou ainda que, na microrregião de Porto Seguro, o surgimento da
violência onde antes reinava a paz estaria atrelado à migração de
traficantes de municípios como Itabuna e Teixeira de Freitas. “Há uma
migração. Em Itabuna fizemos operação um ano investigando duas facções
que tinham domínio na região Sul do estado toda. Fizemos uma limpeza,
colocamos presos em presídios federais. Então, os grupos criminosos
expandem seus negócios para municípios menores”, disse.
Secretário destaca redução de criminalidade em 2013
O
secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, afirmou que nos
balanços parciais deste ano os índices de homicídios em todo o estado
apresentam reduções, se comparados aos de 2012. De janeiro a abril,
houve na Bahia 2.259 homicídios, 374 a menos que o mesmo período do ano
passado – redução de 16%. “Já assimilamos o estrago que a greve (da PM)
causou em nossa polícia. Agora os dados estão voltando à normalidade de
2011, ano em que reduzimos em 9% os índices de homicídio, se comparado a
2009”, afirmou Barbosa.
O secretário salientou, todavia, que, se
por um lado a Polícia Militar teve a greve, em 2012, a Polícia Civil
foi mais produtiva que em 2011. Isso porque remeteu 51% a mais de
inquéritos com autoria definida à Justiça (26 mil no total); aumentou em
37% a apreensão de armas (3,8 mil) e 237% a apreensão de drogas (18
toneladas).
“Estamos no empenho, criamos o DHPP (Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa) e delegacias especializadas, que
estamos implementando no interior. Além de bases comunitárias em Feira
de Santana, Itabuna e Vitória da Conquista”, disse.
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