O "milagre brasileiro está em pane", diz a manchete do
jornal francês Le Monde desta terça-feira, que ainda dedica uma página
inteira aos acontecimentos e à "maré humana" que varreram o País nos
protestos contra a alta dos preços, a corrupção e os gastos com a Copa
do Mundo. Segundo o jornal, o governo da presidente Dilma Roussef "paga
hoje o preço" de uma revolta popular instigada pelas "despesas suntuosas
da Copa do Mundo de 2014".
"Ao vermos, dia após dia, os manifestantes cada vez mais
números irem às ruas para criticar à má administração e as quantias
abissais investidas na organização da Copa do Mundo, enquanto os
serviços públicos como a saúde e a educação estão em um estado
deplorável, podemos questionar se os dirigentes (do País) não tiveram o olho maior do que a barriga", escreveu o Le Monde.
Segundo o jornal, uma conjunção de diferentes fatores
fez desmoronar o "paradigma" de que a Copa do Mundo iria permitir
desenvolver diferentes regiões do País. O primeiro fator, diz o
vespertino, é o fraco crescimento econômico brasileiro, que sinaliza
"perda de fôlego". Outro elemento importante é a inflação, "um tema
sensível para os brasileiros", que "dá sinais de febre forte".
"A tudo isso se somam os anúncios sobre o custo
suplementar astronômico das obras dos estádios. Alguns deles
permanecerão carcaças vazias por falta de espectadores (após a Copa)
e outros serão dificilmente acessíveis às pessoas de baixa renda em
razão do aumento dos preços dos ingressos", diz o Le Monde.
Bastou então o aumento de R$ 0,20 do preço das passagens
de ônibus em São Paulo, associada "a uma repressão desproporcional da
polícia" para "atear fogo na pólvora", escreve o diário.
O Le Monde destaca que não apenas as autoridades
"esqueceram" de mencionar que o transporte em São Paulo se torna um dos
mais caros do mundo, já que cada usuário utiliza, em média, duas ou três
passagens por dia, "mas eles também deixaram de evocar o estado do
sistema de transportes, deplorável".
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