quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Briga por herança acaba em tiros na cidade de Gandu

Uma briga entre quatro irmãos por uma herança de mais de 15 fazendas num total de  36 mil hectares (cerca da metade da área do município de Salvador) deixou pesado o clima na região de Gandu, no Sul do estado.

No último sábado, policiais tiveram que dar tiros para o alto para apartar uma briga com troca de socos entre Rodrigo Souza, Ruy Souza, Renilda Souza e Osvaldo Souza Júnior e seus seguranças. A disputa foi noticiada ontem pela Coluna Satélite, de Jairo Costa Júnior.

Os quatro são filhos do ex-deputado estadual Osvaldo Souza, que morreu em junho do ano passado. Uma história recheada de intrigas, acusações de ameaças, roubos, agressões e falsificação de documentos coloca em lados opostos os três irmãos Ruy, Renilda e Osvaldo, filhos da mulher do ex-deputado; e Rodrigo, nascido em uma relação extraconjugal.

O CORREIO recebeu documentos e colheu depoimentos de um dos lados da disputa, dos três irmãos do casamento do ex-deputado. Rodrigo Souza foi procurado, mas não conseguimos encontrá-lo.

 O imbróglio entre os irmãos começou antes mesmo da morte do ex-deputado Osvaldo Souza, que já sofria com o tratamento de um câncer de próstata que migrou para o pulmão há pelo menos cinco anos. Seis dias após a internação, quando o patriarca estava em coma, com um documento supostamente assinado pelo seu pai em mãos, Rodrigo Souza realizou uma alteração na razão social da Osvaldo Souza Empreendimentos Patrimoniais Ltda., empresa que administra todas as propriedades rurais da família, lhe dando o total controle administrativo.

Osvaldo Souza morreu no dia 17 de junho de 2012, cinco dias após a mudança em sua empresa. Os outros irmãos decidiram questionar a autenticidade da assinatura na Justiça. No último dia 13 de agosto, após o Departamento de Polícia Técnica (DPT) atestar que a assinatura foi falsificada, a desembargadora Dinalva Pimentel concedeu uma decisão liminar que retirou os poderes de Rodrigo na administração da empresa, deixando todos os poderes, temporariamente, nas mãos de sua irmã Renilda.

Proteção
Enquanto a decisão não saía, o clima entre os irmãos se acirrou a ponto de um deles acusar outro de contratar capangas para matá-lo. Em novembro do ano passado, um amigo de Ruy relatou à polícia ter presenciado o momento em que Rodrigo mostrava a foto do irmão para três homens armados e supostamente planejava seu assassinato.

Na época, Ruy chegou a reunir-se com o secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, para pedir proteção policial. A SSP confirma o encontro. O reforço não foi concedido, pois não houve ordem explícita da Justiça.



Segundo Osvaldo Júnior, a liminar que retirou Rodrigo da administração do espólio familiar foi cumprida somente na terça-feira da semana passada. Os três irmãos retomaram, por exemplo, o controle das contas bancárias das empresas. “Ele ficou um ano na frente de tudo de forma fraudulenta. Vamos fazer auditoria para saber o rombo que ele deixou. Mas só em uma das fazendas, que tinha 1,3 mil cabeças de gado, agora só tem 400, e o dinheiro da venda não está lá”, acusou.

Os irmãos registraram um boletim de ocorrência acusando Rodrigo de ter furtado mais 200 cabeças de gado na madrugada de quarta-feira da semana passada, além de levar parte da produção de cacau. Às autoridades policiais, Rodrigo alega que apenas cumpre acordos comerciais firmados de compra e venda de animais. No sábado, na tentativa de impedir que novos gados fossem retirados da fazenda, Ruy e Renilda acabaram em confronto pessoal com Rodrigo, e a confusão somente acabou após a chegada da polícia, que teve de disparar tiros para o alto.

“Cada um estava com seus capangas. O que eu soube que ia ter tiroteio e ia ter morte, a PM foi lá para garantir que não houvesse morte”, disse o coronel Antônio Reis, comandante da PM na região Sul do estado. Apenas ele está autorizado a falar sobre o caso.

Ele disse não ter recebido nenhuma notificação judicial sobre a propriedade das fazendas; logo, não tem como distinguir quem seria o responsável pelos bens.

“Eu sei que há uma briga pelo espólio e a polícia não vai se posicionar. Até que a Justiça notifique, não vou proibir que ele (Rodrigo) tire os gados, não tenho competência para isso”, disse o coronel. “Agora sempre que eles se armarem e forem trocar tiros no meio da rua, prenderei todo mundo”, completou.

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