Uma briga entre quatro irmãos por uma herança de mais de 15 fazendas num
total de 36 mil hectares (cerca da metade da área do município de
Salvador) deixou pesado o clima na região de Gandu, no Sul do estado.
No
último sábado, policiais tiveram que dar tiros para o alto para apartar
uma briga com troca de socos entre Rodrigo Souza, Ruy Souza, Renilda
Souza e Osvaldo Souza Júnior e seus seguranças. A disputa foi noticiada
ontem pela Coluna Satélite, de Jairo Costa Júnior.
Os
quatro são filhos do ex-deputado estadual Osvaldo Souza, que morreu em
junho do ano passado. Uma história recheada de intrigas, acusações de
ameaças, roubos, agressões e falsificação de documentos coloca em lados
opostos os três irmãos Ruy, Renilda e Osvaldo, filhos da mulher do
ex-deputado; e Rodrigo, nascido em uma relação extraconjugal.
O
CORREIO recebeu documentos e colheu depoimentos de um dos lados da
disputa, dos três irmãos do casamento do ex-deputado. Rodrigo Souza foi
procurado, mas não conseguimos encontrá-lo.
O imbróglio entre
os irmãos começou antes mesmo da morte do ex-deputado Osvaldo Souza, que
já sofria com o tratamento de um câncer de próstata que migrou para o
pulmão há pelo menos cinco anos. Seis dias após a internação, quando o
patriarca estava em coma, com um documento supostamente assinado pelo
seu pai em mãos, Rodrigo Souza realizou uma alteração na razão social da
Osvaldo Souza Empreendimentos Patrimoniais Ltda., empresa que
administra todas as propriedades rurais da família, lhe dando o total
controle administrativo.
Osvaldo Souza morreu no dia 17 de junho
de 2012, cinco dias após a mudança em sua empresa. Os outros irmãos
decidiram questionar a autenticidade da assinatura na Justiça. No último
dia 13 de agosto, após o Departamento de Polícia Técnica (DPT) atestar
que a assinatura foi falsificada, a desembargadora Dinalva Pimentel
concedeu uma decisão liminar que retirou os poderes de Rodrigo na
administração da empresa, deixando todos os poderes, temporariamente,
nas mãos de sua irmã Renilda.
Proteção
Enquanto a
decisão não saía, o clima entre os irmãos se acirrou a ponto de um deles
acusar outro de contratar capangas para matá-lo. Em novembro do ano
passado, um amigo de Ruy relatou à polícia ter presenciado o momento em
que Rodrigo mostrava a foto do irmão para três homens armados e
supostamente planejava seu assassinato.
Na época, Ruy chegou a
reunir-se com o secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, para
pedir proteção policial. A SSP confirma o encontro. O reforço não foi
concedido, pois não houve ordem explícita da Justiça.
Segundo
Osvaldo Júnior, a liminar que retirou Rodrigo da administração do
espólio familiar foi cumprida somente na terça-feira da semana passada.
Os três irmãos retomaram, por exemplo, o controle das contas bancárias
das empresas. “Ele ficou um ano na frente de tudo de forma fraudulenta.
Vamos fazer auditoria para saber o rombo que ele deixou. Mas só em uma
das fazendas, que tinha 1,3 mil cabeças de gado, agora só tem 400, e o
dinheiro da venda não está lá”, acusou.
Os irmãos registraram um
boletim de ocorrência acusando Rodrigo de ter furtado mais 200 cabeças
de gado na madrugada de quarta-feira da semana passada, além de levar
parte da produção de cacau. Às autoridades policiais, Rodrigo alega que
apenas cumpre acordos comerciais firmados de compra e venda de animais.
No sábado, na tentativa de impedir que novos gados fossem retirados da
fazenda, Ruy e Renilda acabaram em confronto pessoal com Rodrigo, e a
confusão somente acabou após a chegada da polícia, que teve de disparar
tiros para o alto.
“Cada um estava com seus capangas. O que eu
soube que ia ter tiroteio e ia ter morte, a PM foi lá para garantir que
não houvesse morte”, disse o coronel Antônio Reis, comandante da PM na
região Sul do estado. Apenas ele está autorizado a falar sobre o caso.
Ele
disse não ter recebido nenhuma notificação judicial sobre a propriedade
das fazendas; logo, não tem como distinguir quem seria o responsável
pelos bens.
“Eu sei que há uma briga pelo espólio e a polícia não vai
se posicionar. Até que a Justiça notifique, não vou proibir que ele
(Rodrigo) tire os gados, não tenho competência para isso”, disse o
coronel. “Agora sempre que eles se armarem e forem trocar tiros no meio
da rua, prenderei todo mundo”, completou.
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