Pouca gente, incluindo turistas e baianos, sabe que a
tradicional fita do Senhor do Bonfim não é produzida no Estado há mais
de 20 anos. Nesta semana, o arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo
Kriegger, e o secretário de Turismo, Domingos Leonelli, anunciaram a
novidade como parte de um programa de turismo religioso para a capital,
que incluirá também outras iniciativas. A ideia é ampliar o número de
turistas que vêm à Bahia por motivos religiosos.
O mais conhecido souvenir soteropolitano passou a ser
produzido por fábricas do interior paulista nos anos 1990 por questões
financeiras. Enquanto as fábricas baianas, que confeccionavam o produto
em algodão, estavam perto da bancarrota, as confecções de São Paulo
clamavam por pedidos. Osnir Moreno Rolim, dono da Fita Têxtil, no
município de Sumaré, é atualmente o maior produtor dos mimos no País,
com mais de cinco milhões de unidades mês.
A diferença entre este campeão de vendas e o novo
produto é a tradição. Sai de cena o poliéster, utilizado para evitar que
a fita desfie, e retorna o algodão. “Essa fita acabou com o simbolismo
de que o desejo se realiza quando a fita rompe, porque essas são
plásticas, e não rompem nunca”, explica a técnica em turismo Rosa
Amadeu, que guia visitantes por Salvador há 32 anos.
A Cooperativa de Produtores de Artigos Religiosos e
Culturais (Cooparc) ficará responsável por produzir as fitinhas
legítimas, que voltarão a ter a medida da imagem do Senhor do Bonfim -
dando duas voltas no pulso de um adulto –, além de comercializar imagens
e outros objetos sacros. A fábrica e distribuidora ganhará uma sede no
bairro da Ribeira, próximo à Igreja do Bonfim, onde funcionará também o
Memorial Turístico da Baía de Todos-os-Santos.
“Queremos que as pessoas vejam aquelas riquezas que nós
temos, nesse campo religioso e turístico. Além disso, será para muitas
pessoas, uma nova possibilidade de emprego, de melhorar a sua própria
vida”, destacou o arcebispo. Para que a novidade não se resuma à venda
dos nossos produtos, a Setur oferecerá cursos de capacitação para guias
turísticos focados especialmente na história religiosa da cidade e de
seus símbolos.
Mas nem tudo são flores. Quem vive da venda das fitas se
lembra do projeto do então prefeito Antônio Imbassahy (2001), que
prometia a volta das fitinhas, mas não deu em nada. Além disso, já se
fala sobre a alta no preço das fitas, que passarão a custar R$ 0,30, no
lugar dos R$ 0,10 atuais. “Deixaram de fazer aqui porque não estava
dando dinheiro. Agora querem voltar com isso e quem fica ameaçado somos
nós. Eu vivo disso e não tenho mais idade para experiência”, reclama o
vendedor de souvenires João Márcio Bispo, 44 anos.
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