No dia em que o Bom Senso FC divulgou nota criticando o
desinteresse da CBF pelas discussões que propõem reestruturação do
futebol brasileiro, um dos expoentes do movimento, o zagueiro Paulo
André, fez mais críticas à entidade e afirmou que o medo de retaliação
impede que os clubes se tornem agentes deste processo, um fator que se
provaria decisivo. Paulo André participou de palestra no Seminário
Business FC 2013, fórum do futebol realizado em São Paulo.
Durante cerca de 30 minutos, Paulo André explicou a
origem do Bom Senso FC, as reivindicações e os avanços feitos nas
negociações nas últimas semanas. O quadro não é dos mais favoráveis,
segundo expôs, principalmente na questão da limitação do número de
partidas por temporada – a proposta é de no máximo 70 jogos. “Depois da
segunda reunião com a CBF, percebemos que as mudanças aprovadas foram
paliativas (30 dias de férias e maior período de pré-temporada) e que a
mudança estrutural que se espera não só não foi feita, como não foi
discutida da maneira como deveria”, afirmou.
O próximo passo, portanto, é pressionar a entidade a
levar a sério as reivindicações. Jogadores da Série A devem fazer mais
ações como a realizada recentemente, na qual os atletas se abraçaram em
círculo antes do começo dos confrontos – uma manifestação que, Paulo
André admitiu, foi confundida com o minuto de silêncio dedicado em
memória de personalidades do esporte falecidas. Um fator que impede
avanços mais rápidos é a disputa política que não deixa os clubes se
posicionarem abertamente.
“Sei da dificuldade política, acho que há um mecanismo
engessado dentro do futebol brasileiro e, pela maneira como ele é
conduzido - do clube para a federação e depois a confederação -, há
séria dificuldade de mudança, de alguém que pense diferente. Há medo
sério de retaliação, algo que vem de cima pra baixo. Respeito, mas os
clubes são agentes fundamentais. Quando conseguirem, em consenso, se
reunirem por melhorias, não tenho dúvidas de que elas vão acontecer”,
explicou Paulo André.
Apenas dois clubes apoiaram o Bom Senso FC abertamente:
Santos e Bahia. Na segunda-feira, o presidente do Corinthians, Mario
Gobbi, emitiu nota oficial negando que esteja insatisfeito com a atuação
política de Paulo André, algo que fez o jogador demonstrar alívio. Com
isso, a CBF não dá indicações de que vai produzir alterações
substanciais. “O que mais nos choca é descobrir quem está zelando pelo
futebol”, disse, citando Rede Globo, emissora com os direitos de
transmissão, mas que por questões mercadológicas apoia os times das
divisões superiores.
Os clubes pequenos e seus atletas permanecem
desemparados, sem contar com calendário durante toda a temporada e,
assim, vivendo em condições de sub-emprego na medida em que não têm
atividade constante. “Esse é nosso medo: não existe um plano. Existe
plano político de manutenção de poder. Não existe plano esportivo de
capacitação”, criticou o jogador, que apesar de tudo manifestou a
esperança de que as ações do grupo possam sensibilizar dirigentes e
clubes.

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